segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Um Morro, um Holofote e Três Cidades



É curioso como lugares distantes geograficamente podem viver um mesmo momento na história e a partir daquele ponto levar consigo o fruto do acontecido, sendo ele um fruto doce ou amargo, e imperceptível para maioria das pessoas.

Um exemplo é a ligação do Morro do Holofote, no bairro de Santana, bastante conhecido pelos niteroienses com a capital catarinense Florianópolis. Apesar de longe um do outro viveram um momento em comum na história.

Marechal Deodoro da Fonseca
1º Presidente: 15 de novembro de 1889
23 de novembro de 1891


Assim que chegou ao poder, o primeiro presidente (do Brasil) marechal Deodoro da Fonseca teve que descascar o primeiro abacaxi: as instabilidades políticas e econômicas na tentativa de centralizar o poder e eliminar focos pro monarquistas, porém o maior caroço deste angu foi o descontentamento de setores das forças Armadas que o levaram a sua renuncia em 1891, depois que o Almirante Custódio de Melo ameaçou bombardear o rio de Janeiro, caso Deodoro não renunciasse. Assim ele fez entregando o poder ao seu vice Floriano Peixoto. Esse ocorrido foi chamado de primeira Revolta Armada.

Almirante Custódio de Melo
foi um dos líderes das Revoltas da Armada de 1891 e 1893

Custódio de Melo também foi o propulsor da segunda Revolta Armada, e era um candidato declarado a sucessão de Floriano. Ele e um grupo de oficiais da Marinha exigiam imediatamente a convocação de eleitores para eleger novos governantes.

O movimento ganhou força com jovens oficiais e monarquistas, e, diferente da primeira, o coro comeu na segunda Revolta Armada com uma sangrenta batalha que ocorreu onde hoje é o porto de Niterói em uma pequena praia de 30 metros (de extensão) chamada na época de Porto do Meyer. Era nessa prainha que os revoltosos concentraram suas embarcações para tentar desembarcar em Niterói, a então capital do Estado do Rio de Janeiro. Mas as forças do governo em terra, já estavam preparadas e tinham um plano. 

Colocaram em cima de uma pedra o maior e melhor holofote que existia na época e quando os revoltosos estavam desembarcando durante a noite, esse monstruoso holofote foi ligado em direção à praia tornando a noite em dia e cegando com seu brilho os revoltosos. Foi uma verdadeira chacina marcada na história de Niterói e do Brasil. A pedra onde ficou instalado esse holofote ficou conhecida como a pedra do holofote e mais tarde todo o morro passou a se chamar com o mesmo nome.

Holofote parecido com o que possuía na Fortaleza de São João,
 ladeado por soldados do Batalhão de Engenharia, 1894.
Fugidos os revoltosos juntamente com seu líder, Custódio de melo, foram parar no sul do país em uma ilha chamada Desterro somando apoio à Revolta Federalista que batiam contra o governo da União. Durante 6 meses a cidade de Desterro foi sede de uma república independente revolucionária intitulada Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, formada pela união dos revolucionários e também os rebelados militares da Marinha Brasileira. Em 16 de Abril de 1894 deu-se o fim com dezenas de revoltosos presos e sumariamente executados manchando mais uma vez de sangue um capitulo da história do Brasil. Com o fim da revolta Desterro em homenagem a Floriano Peixoto, conhecido como Marechal de Ferro, passou a se chamar Florianópolis.

Mas o leitor já deve estar se perguntado onde entra São Gonçalo nessa história. Então vamos voltar no tempo de 1890, apenas um ano após a Proclamação de Republica o município de São Gonçalo nascia tirando proveito de todo esse período conturbado de consolidação do regime republicano. Como Niterói era capital do Estado do Rio de Janeiro e o que mais sofria com reflexos do republicanismo onde ideias de democratização da administração pública e descentralização do poder. Assim nascia o município de São Gonçalo, herdando 65% do território niteroiense.

Texto publicado em 4 de maio de 2013 no Tafulhar.

Veja o acervo de fotografias

"REVOLTA DA ARMADA POR JUAN GUTIERREZ"

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