sábado, 28 de fevereiro de 2015

De Volta para o Passado


  É interessante a capacidade que as sensações têm em nos levar a momentos no passado como se estivéssemos dentro de um livro de J.J.Benitez. Quem nunca viajou ao passado ouvindo uma música que adornou a sua juventude. Eu mesmo quando ouço “Say you, Say me”  na voz de Lionel Richie me transporto para o ginásio do Saquarema F.C em um sábado desses de um verão da década de 80 onde religiosamente rolava o bailinho semanal. Lá estava eu com o cabelinho cortadinho no meio, uma de minhas blusas de botão chamativa da Pier para fora da calça tentando arrastar uma mina para salão e dançar coladinho. É claro que  também na expectativa de dar uns beijos, mas com a minha timidez ficava eu rodando que nem peru tonto sem coragem para chamar para dançar e muito menos para roubar-lhe um beijo. Mas mesmo sem beijo e sem dança na minha viagem no tempo através dessa incrível sensação me sinto bem. Feliz por ter vivido aquele momento. 

  E o olfato? Essa também é uma incrível sensação que nos faz viajar. Mas nenhuma das sensações me faz mais viajar ao passado do que o paladar. Alguns “mui-amigos” diriam -  Também com esse peso, tinha que ser. Nem ai para intriga da oposição, o paladar é sem duvida como no filme “De Volta Para o Futuro” o DeLorean das sensações. Ontem mesmo participando pelo Projeto Recicla Leitores do 4º Salão da Leitura de Niterói chegou àquela hora de dar uma paradinha para descansar e botar alguma coisa pra dentro para aguentar até as 22 horas. Na praça de alimentação tinha um crepe que estava acenando para mim e gritando para que eu o devorasse, mas meus olhos bateram em um carrinho de cachorro-quente com uma logomarca tão familiar pra mim que não tive dúvida, tinha que ser ele.  Aquele hot-dog estava me esperando para ser o comandante da minha viajem ao passado quando com a minha família íamos ao Maracanã assistir jogos de futebol ou ver Papai Noel (não riam). Quase sempre era em clássicos entre Flamengo e Vasco, onde a família se dividia entre torcedores do Flamengo, minha mãe e meu irmão e do Vasco, eu e meu pai. Mas todos juntos, em uma parte da arquibancada onde conseguíamos torcer sem que tivesse confusão. Tempo bom onde torcedores se respeitavam e as suas diferenças entre torcer por seu clube do coração  não faziam de você um inimigo para o outro. Voltando a minha viajem, independente de quem estava ganhando ou quem estava perdendo, o intervalo era sagrado. Tinha que ter cachorro-quente Geneal.        

   Geneal, a responsável pela minha doce viagem ao passado com sabor de hot-dog tem meio século. Tudo começou em 1963 quando Aluisio Neiva um homem com tino para negocio viu a oportunidade de criar um lanche rápido para atender pontos da cidade com grande movimento, como festival de música, maracanã e praia.



   O negócio deu tão certo que carrocinhas da marca se espalharam por todo o rio e a empresa ainda adicionou ao menu um lanche chamado de Tico e Teco, um pão de forma pasta de presunto e ovo e o cliente ainda escolhia para acompanhar a bebida famosa “Laranjinha ou Uvinha” -Aquele suco de fruta que vinha em uma garrafinha plástica.

  Nos anos 80 o cachorro-quente também fez muito sucesso entre a juventude amante do rock que frequentavam do Circo Voador.

   Como toda marca que começa despontar é assediada por tubarões. A gigante Brahma impulsionada pelo sucesso de seus refrescos exclusivos e sua presença marcante no Maraca compra a empresa, mas logo depois descontinua a marca. A Geneal fica sumida no mercado até ser vendida para o Posto Val que incorpora a marca as suas lojas de conveniência. E também não demora muito para outra vez sumir do mercado quando o Posto Val foi comprado pela Repsol.
   
  Foi ai que um ex- funcionário do Posto Val, surfista, frequentador de jogos no Maraca e fã de carteirinha do cachorro-quente Geneal, viu uma grande oportunidade de negocio e ao mesmo tempo resgatar a marca em seus moldes originais.  O engenheiro Dimas Corrêa Filho fez acender a marca Geneal depois de quase dez anos fora do mercado e hoje o cachorro-quente está nos principais shoppings da cidade, eventos como Fashion Rio e Rock in Rio e para alegria dos futebolistas de plantão ela votou ao Maracanã. A empresa ainda quer voltar no mercado com o sanduba Tico e Teco e para garantir que a receita seja igualzinha da época contrataram um antigo funcionário.

   É meu amigo leitor de tanto falar de comida, foi abrindo o apetite e batendo aquela fome de comer um boi inteiro e por certo momento, me questiono o motivo de ter trocado aquele simpático crepe recheado ou mesmo aquele X-TUDÃO com tudo dentro por aquele simples pão com salsicha e molho de mostarda. Fecho os meus olhos me concentro e não deixo a fome me abater e volto à razão. É claro Alex que você fez a escolha certa, pois não estava simplesmente matando a sua fome e sim desfrutando de uma viagem maravilhosa ao passado melhor do que muito pacote de viagem com hotel 5 estrelas, café da manhã, almoço e jantar.

  Será que viajei na maionese?

Texto publicado em 9 de junho de 2014 no Blog do Vovozinho

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Uma Onça olhando as águas da Guanabara

Pedra da Onça na Ilha do Governador - RJ
Diz a lenda que uma indiazinha que vivia em uma tribo as margens da Baia de Guanabara tinha um maracajá de estimação, uma espécie de gato-do-mato, animal típico da Ilha do Governador no século XVI. Todo final de tarde a indiazinha ia com seu bichinho de estimação banhar-se na límpida água da baia. Enquanto mergulhava seu amiguinho ficava ali a observá-la no alto de uma pedra. Só que um dia a indiazinha mergulhou e não mais voltou, e como prova de amor o seu animal de estimação ficou ali esperando, esperando e nada dela voltar. Passaram-se dias e a onça não se mexia na esperança de ver sua amiga novamente. Índios da tribo até tentaram retira-la, mas o esforço foi em vão, a pobrezinha ficou ali intacta até falecer de fome e de sede. 

Nenhum historiador confirma a história, mas para homenagear a fidelidade dessa onça, moradores da Ilha do Governador na década de 1920 construíram um monumento para representar esse ato de amor. O responsável pelo projeto e por esculpir o maracajá foi o artista plástico Guttman Bicho e sua obra ficou até o ano de 1965 quando foi substituída por deterioração do tempo.

Antiga Escultura que ficou até 1965.
Hoje a Pedra da Onça é um ponto turístico da Ilha do Governador e quem à visita tem o visual lindo da região serrana e do Dedo de Deus, mas o que mais impressiona é a paz que ecoa naquele lugar. Tenho certeza que assim como a onça, não resistirá em sentar-se na pedra e olhar o movimento das águas da Guanabara. E quem sabe adormecer e sonhar com a indiazinha saindo da água correndo para dar um grande abraço no seu amigo felino.

Texto publicado 22 de julho de 2013 no Blog do Vovozinho

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Viver para Amar ao Próximo



Alex Wölbert*

            Em uma manhã dessas  sentado no banco do carro em mais um engarrafamento, de costume, na ponte Rio – Niterói, enquanto me deslocava para o trabalho, me deparei em mais um maluco devaneio. Peguei-me pensando o começo da minha vida profissional, lá naquele sobradinho velho da Rua Teofilo Otoni onde meus olhos acompanhavam com detalhes cada comando dado pelo meu instrutor naquele teclado gigantesco e monitor verde que refletia no seu óculos fundo de garrafa. Estava fascinado com aquele homem e quando crescesse era igual a ele que queria ser.

            Então foquei naquele exemplo e comecei a galgar cada pedacinho de chão. Estudei, estudei mais um pouquinho, continuei estudando. Consegui meu diploma de nível superior e continuei estudando mais ainda. Foram anos e anos de estudos e práticas que me tornaram tão bom quanto meu guru. O tempo passou tão rápido quanto meus pensamentos que foram interrompidos por buzinas dos apressadinhos atrás de mim. - “PASSA POR CIMA!” – Enquanto acelero para acompanhar a procissão de carros me indago se valeu a pena tudo aquilo. Dos estágios do ciclo da vida que aprendemos na escola já passei por três agora é envelhecer e morrer. Por isso a minha indagação, a sete palmos de terra estarão comigo todo aquele conhecimento que adquiri durante esse tempo e todos aqueles anos que dei o meu suor trabalhando. Valeu a pena?

            Sem saber minha pergunta seria respondida dias depois em um simples olhar acompanhado de um sorriso...


Caixa Auxiliadora dos Pobres de São Gonçalo criada na década de 30 pelos Varejistas de São Gonçalo. Esta construção já foi demolida para ampliação. Foto: Reprodução

            Em 1931 nascia a “Caixa Auxiliadora dos Pobres” criada pelos varejistas de São Gonçalo. Tinha o objetivo de dar aos mendigos uma esmola semanal, contudo, visto que muitos não tinham família nem lar, transformaram-na em “Asilo Amor ao Próximo” e para angariar recursos foi criado um “Livro de Ouro” e assim puderam comprar a sua sede bem no centro de São Gonçalo na Rua Feliciano Sodré, nº 04  localizada entre a prefeitura e a Praça Zé Garoto.

Asilo Amor ao Próximo. Espaço ampliado. Foto: Reprodução

            No ano de 1969 o Asilo passou pelo pior momento de sua existência, com a morte e afastamento dos fundadores chegou a estar completamente abandonado com apenas 11 velinhos sofrendo de maus tratos. Foi então que um casal visitando o asilo e vendo aquela situação resolveu ajudar. Criaram um “Departamento de Cooperadoras” com senhoras voluntárias que administram a instituição sem nenhum benefício. No inicio, eram apenas 15 voluntárias e hoje, perto de completar 50 anos, há mais de 160 senhoras voluntárias que administram e trabalham para que não falte nada para as internas. Com a reforma do estatuto, o local passou a ter a atual denominação, Instituição Cristã Amor ao Próximo (ICAP), e passou a trabalhar apenas com senhoras acima de 70 anos de idade[i].



Sede da Instituição Cristã Amor ao Próximo - ICAP.  Local: Rua Feliciano Sodré n. 4, São Gonçalo-RJ.  Foto: Reprodução


            Meu contato com o ICAP foi numa sexta-feira fria quando minha sogra, que faz trabalhos sociais em igrejas, me pediu um favorzinho. Sabe como é não se nega favor à sogra.

- Alex, você pode, por favor, entregar essas sacolas com agasalhos no Asilo Amor ao Próximo?

Ué, será que deu pane na vassoura? Pensei comigo. 

- Claro minha sogra, você não pede, você manda.

            Deixando a brincadeira de lado, afinal de contas, eu adoro a minha sogra e nem sei por que fiz esse comentário da vassoura no texto. Deve ter sido para torna-lo mais bem humorado e atrativo. Enfim, eu não sabia, mas a minha ida ao ICAP seria inesquecível e cheia de aprendizado.

            A viagem não foi longa, já que meus sogros moram a 10 minutos do centro de São Gonçalo e logo estava atravessando com aquelas sacolas nas mãos o portão verde onde na fachada lia-se Pavilhão de Bazares Beneficentes. Ao atravessar a porta, ouço um barulho ensurdecedor de máquina de costura e meus olhos passeando por todo ambiente só viam araras de roupas. Até que na segunda inspeção vejo no cantinho uma máquina de costura e um tufinho de cabelo branco como neve escondido por detrás.

- Boa tarde?

E o som da máquina continuava sem interrupção. Então quase gritando.

- Boa tarde, senhora?

            E ali permaneceu, a senhora de tufos brancos, sem nenhuma reação atrás da barulhenta máquina de costura. Caminhei até ficar de frente e pude perceber que se tratava de uma senhora na casa dos 60, mas com uma vitalidade no manejo daquela máquina. Suas mãos dançavam na bancada segurando uma peça de roupa ao som daquela medonha melodia ensurdecedora. Quanta pratica tinha aquela senhora. Com certeza se fosse eu no seu lugar já teria meus dedos furados antes mesmo de dar o primeiro ponto.

            Fique ali admirando por quase 20 segundos, até que ela percebesse a minha presença. Então com a mão direta empurrou os óculos para pontinha do nariz inclinou a cabeça um pouco para baixo e me olhou por cima dos óculos.

- Boa tarde, seja muito bem vindo. Em que posso ajudar?

            Aquela boas vindas mexeu comigo, há muito tempo não via uma recepção com tanta educação. Estamos vivendo um tempo de, E ai? O que foi? Qual é?        

- Boa tarde, me chamo Alex e vim até aqui a pedido de minha sogra que pediu para que entregasse essas duas sacolas de agasalhos para doar ao asilo.

- Que bom, tem feito muito frio à noite e os agasalhos vão ajudar a esquentar quem precisa. A sua sogra é um anjo, Alex.

- Pois é! Eu é que sei.

            Ela sorri e com muita dificuldade levanta da cadeira e caminha até uma porta que dá para os fundos do bazar.

- Vamos lá Alex, vou te mostrar a nossa casa. A propósito me chamo Lourdes.

Bosque da Paz - Largo do Chafariz - ICAP. Foto: Reprodução

            Quando atravesso a porta dos fundos do bazar me deparo com um jardim lindo, com muito verde e muitas flores. No centro do jardim um chafariz com plantas jiboias escorregando do centro da escultura.

- Chamamos de bosque da paz e largo do Chafariz. Dona Maria Amélia adorava cuidar de cada planta desse jardim. Acho até que tinha o dom de ouvi-las.

- Maria Amélia?

Maria Amélia (1918-2013) foi diretora da Instituição Cristã Amor ao Próximo (ICAP) por 48 anos

- Sim, Maria Amélia foi a grande responsável pela transformação da nossa casa, foi ela e seu marido que em visita criaram o Departamento de Cooperadores. Departamento que ela presidiu com muito vigor por 48 anos até o fim de sua vida no ano passado.

Lourdes foi subindo a caminho das instalações.

- Vamos lá, vou te mostrar onde as vovós descansam.

            Um pequeno portão de ferro dividia um varandão com várias cadeiras e poltronas.

- Aqui são três lares, os quartos são para quatro senhoras, com uma suíte. O primeiro lar é para as que precisam de cuidados especiais como banho e necessitam que as vistam. O segundo lar é para aquelas que são lúcidas, passeiam, tomam banho sozinha. E o terceiro é o que chamamos de “remanso” que é para as voluntárias que trabalharam na casa por mais de 10 anos, gratuitamente, e que depois dos 65 anos de idade precisam de um lugar para morar. Esse é o meu caso Alex.

            Eu e minha cara nítida de espanto fomos caminhando até a varanda onde com apenas um gesto de mãos Lourdes me pediu para sentar ao lado de uma senhorinha, esta que aparentava ter mais idade. Parecia estar entrando na casa dos 90 anos.

- Então trabalha  por 10 anos sem receber nada em troca Lourdes?

- Eu trabalho por exatos 30 anos e quem disse que não recebo nada em troca? Todos os dias recebo algo que dinheiro nenhum é capaz da pagar.

            Ela olhou a senhora do meu lado, deu um sorriso e levantou mais uma vez com dificuldade.

- Alex, vou pegar um café pra gente. Enquanto isso faz companhia a Bethânia. Ah, ela é surda, mas se comunica muito bem.

            Enquanto Lourdes se afastava, meus olhos foram ao encontro daquela que me fazia lembrar minha avó. E não precisou de nada mais do que um simples olhar e um sorriso. Bethânia pegou na minha mão e mesmo sem pronunciar uma palavra, eu sabia o que ela estava me dizendo. Tinha razão Dona Lourdes quando disse que Bethânia era muda, mas se comunicava muito bem. Ela estava me agradecendo. Agradecendo por estar ali ao lado dela, de conhecer a sua casa e compartilhar aquele momento.

            Acho que estava sendo muito egoísta nos meus questionamentos, pois o que fiz foi trabalhar e ganhar experiência para que pudesse dar o melhor para minha família. E os que trabalham e dão o melhor por pessoas que muitas vezes nem conhecem? Olho para o lado e vejo o exemplo dessas mulheres que passaram a sua vida trabalhando com amor em prol de outras pessoas. 

          Vejo o exemplo da minha sogra que dedica o seu tempo recebendo e separando roupas e alimentos na igreja para repassá-los para quem precisa. Vejo o exemplo de Maria Amélia que até o seu último dia esteve presente na vida de cada uma das internas do ICAP. Vejo o exemplo de Lourdes que se  dedica há mais de 30 anos de sua vida costurando agasalhos para que muitas vovós não tivessem uma noite fria. E Bethânia? Essa trabalha com o sorriso e com o olhar e nos prepara para encarar uma vida regada de alegrias e esperanças e cheia de amor ao próximo. E mais uma vez meus devaneios são interrompidos pelas buzinas dos apressadinhos, mas dessa vez não estou nem ai. – “PASSA POR CIMA!”

É CLARO QUE VALEU A PENA.



[i] Exceção dada às voluntárias que trabalharam na casa por mais de 10 anos, gratuitamente, e que depois dos 65 anos de idade precisam de um lugar para morar.
[1]  Maria Amélia também foi professora de português do Liceu Nilo Peçanha, no Centro de Niterói, e coordenadora da cadeira de Letras da instituição. Ela também presidiu o Conselho do Idoso de São Gonçalo. Faleceu aos 95 anos de idade, no ano de 2013, e seu corpo foi sepultado no Cemitério Parque da Colina, em Pendotiba – Niterói-RJ. 


Texto publicado em 25 de agosto de 2014 no www.simsaogoncalo.com.br

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Esse cristo é nosso, São Gonçalo!


Era outubro de 1997 o povo brasileiro recebia o Papa João Paulo II que nos visitava pela terceira vez para participar do segundo encontro com as famílias.


Enquanto aos pés do Cristo Redentor o Papa abençoava o Rio de Janeiro em São Gonçalo um morador nascido e criado no Porto da Pedra fazia uma gentileza ao casal José Alves de Azevedo e Elvira Santos de Azevedo doando uma réplica em proporções menores da imagem que exatos 10 anos se tornaria uma das sete maravilhas do mundo moderno. O casal muito católico de não faltar uma missa acordaram que aquele presente não seria só deles, teria que ser compartilhado com toda a vizinhança. Com a morte do Padre Eugênio da Igreja da Matriz de São Gonçalo, frequentada pelo casal, acharam que era uma forma de homenagea-lo.

Senhor José procurou os vizinhos, o dono da padaria, da marmoraria, do açougue, enfim, todos dispostos a ajudar na empreitada. O lugar foi escolhido, esquina da Av. Joaquim de Oliveira com a Rua Governador Macedo Soares, bem perto da residência do casal.  A imagem foi fixada em um pedestal de mármore com as inscrições “Homenagem ao Papa João Paulo II em Visita ao Brasil em 02-10-1997” a cima e “IN MEMORIA Padre Eugênio 02-10-1997” a baixo. Uma dupla homenagem, data da visita do Papa e homenagem ao padre. (O Município de São Gonçalo foi abalado com a morte do Cônego Eugênio Moreira, em 03 de junho de 1997, dias após a celebração de Corpus Christi com uma das mais belas manifestações de arte e religiosidade da Cidade, o tapete de sal, areia e outros materiais)


O casal tentou junto à prefeitura que a imagem fosse iluminada a noite, mas por conta da burocracia desistiram e resolveram eles mesmos levarem luz ao Cristo através de fotocélula ligada a sua residência. Não é por dificuldades burocráticas que o Cristo não acederá. 


Para evitar que vândalos danifiquem-no o casal cercou com grades de proteção.

A manhã do dia 5 de maio de 2005 tinha tudo para ser cheia de felicidade, José completava 74 primaveras, mas quis o destino que naquele dia o coração da sua companheira parasse de bater. Enquanto viva, Dona Elvira tinha uma paixão pelo Cristo indescritível. Promovia missas campais em frente à imagem e se orgulhava de ver a rua lotada de fieis. Com ajuda do seu marido mensalmente limpavam cuidadosamente a imagem e anualmente a pintavam. Hoje viúvo o senhor José segue a risca a mesma rotina.

A imagem passou a ser ponto de referência e ficou conhecida não só no bairro, até mesmo na cidade vizinha de Niterói. Basta falar, vamos nos encontrar em frente ao Cristo Redentor do Porto da Pedra que fica fácil para todo mundo.

Com 82 anos de idade a maior preocupação do senhor José é o que acontecerá com o Cristo do Porto da Pedra após a sua morte. Ao mesmo tempo em que se preocupa, tem esperança que sua família continue o legado cuidando da imagem. E espera que as futuras gerações de gonçalenses independente da religião enxerguem-no como um patrimônio da cidade e tenham orgulho de dizer:


ESSE CRISTO É NOSSO, SÃO GONÇALO !!!

Texto publicado em 12 de dezembro de 2013 no www.tafulhar.com.br

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