quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Adélia Martins, educação se faz com amor ao próximo


Adélia Martins tinha tudo para passar pela vida, apenas passar, mas ela fez mais do que passar. Ela passou e plantou uma semente que germinou e dela brotou uma bela árvore que ainda continua frutificando na nossa cidade. A árvore do conhecimento.

          Aos 29 dias do mês de agosto do ano de 1872 nascia no município de Boa Esperança, cidade  de Rio Bonito a heroína da educação gonçalense. Adélia Martins era filha do médico Dr. Joaquim de Almeida Marques Simões e Maria de Freitas Simões, os grandes responsáveis pela sua alfabetização. A menina nasceu obstinada em realizar seu sonho e ainda nova começou a lecionar para os colonos e vizinhos da fazenda onde residia em Rio Bonito. Mas ela queria mais, queria se especializar e seu pai deixou a grande missão de prepará-la para Escola Normal de Niterói com o seu amigo também médico Edmundo March, filho do famoso médico Dr. March.

Quando ingressou na Escola Normal de Niterói Adélia já tinha 5 filhos e nos dias de aula sem ninguém que pudesse cuidar enquanto assistia as aulas,  os deixavam no Grupo Escolar “ Barão de Macaúbas”, do respeitado pedagogo do período monárquico Abílio Cesar Borges.  Foi nesse período que foi chamada de heroína pelo seu professor Ataliba Lepage.

Durante a gestão do Presidente do Estado do Rio de Janeiro Dr. Alberto Torres (deu o nome ao Hospital Estadual no bairro de Colubandê) Adélia Martins foi nomeada professora subvencionada no próprio Município onde morava. Mais tarde, no governo de Dr. Nilo Peçanha acabaram as subvenções e nessa parte da vida que São Gonçalo ganha o coração de Adélia que se muda para São Gonçalo alugando uma salinha na casa do senhor Salvino de Souza em uma região chamada Coelho (atual bairro de mesmo nome) onde na época não existia nenhuma escola.

Adélia determinada na missão, começou a correr a freguesia passando de casa em casa dos moradores do local avisando-os para mandarem seus filhos para escola sem se preocuparem com custo, tudo 0800. O resultado foi tão satisfatório que a salinha não deu mais para comportar tanta criança, e Adélia não perdendo tempo adquiriu da família Duque Estrada a antiga casa grande da Fazenda do Coelho.

Pedia doação de caixotes de madeira aos comerciantes locais para servirem de banco para seus alunos,  para o governo pedia doações de materiais escolares (caderno,giz e quadro). Também conseguiu com que o governo através de doação fizesse um grande galpão de madeira e telhas para atender mais alunos. 

          Adélia era muito querida por todos no palácio do governo, levava frutas frescas, pudim e bolo.     

Com tamanha força de vontade Adélia foi reconhecida pelo então prefeito de São Gonçalo Geraldo Ribeiro que a nomeou professora Municipal. Mas Adélia queria mais e não satisfeita conseguiu que o então Presidente do Estado Dr. Feliciano Sodré a incluísse no quadro de professores efetivos do Estado e foi nomeada para uma escola vaga numa fazenda do Município fluminense de Vassouras.

Mas seu lugar não era ali, e guerreira como sempre, consegue o maior de seus objetivos. Intercedeu junto ao Presidente Feliciano Sodré a sua transferência  da escola em que trabalhava no Município de Vassouras para o Coelho, e doou a escola de sua propriedade para o Estado onde passou a existir como grupo escolar. 

Ata inaugural do Colégio Adélia Martins

Em 1966 o então prefeito Joaquim de Almeida Lavoura com a presença do governador do Estado General Paulo Torres realizou a inauguração oficial do grupo escolar Colégio Estadual Adélia Martins no Campo do Coelho.  E até hoje funciona em 4 turnos diários com mais de 1000 alunos. 
Essa árvore que nossa heroína plantou frutificou e é responsável pela formação anual de dezenas de gonçalense moradores do Coelho e adjacência, os armando para enfrentar o mundo com a melhor de todas as armas. A educação. 




Texto publicado em 6 de março de 2014 no Tafulhar.

domingo, 16 de agosto de 2015

Mata a Cobra e Mete o Pau


Algum tempo escrevi sobre as inofensivas medusas da Indonésia clique aqui . Falando sobre o processo de evolução que sofreram durante milhões de anos que as fizeram diferentes.

Um fenômeno natural bem parecido, mas com um resultado inverso aconteceu bem perto da gente, aqui mesmo no Brasil. Estou falando da Ilha da Queimada Grande, localizada a 35 km de Itanhaém, no litoral de São Paulo. Uma ilha que seria considerada o próprio Jardim do Éden, pela sua beleza paradisíaca se não fosse um detalhe. Adão e Eva não seriam tentados por uma só serpente, mas por centenas, estima-se que sejam 5 por metro quadrado. Jararaca- ilhoa, parentes das jararacas, mas com um veneno 12 a 20 vezes mais forte, uma picada mata um ser humano em 2 horas. 

Essa cobralhada toda reunida em um só lugar se deve ao isolamento geográfico durante a era glacial há 10 mil anos onde o degelo cobriu grande parte da extensão de terra formando várias ilhas como essa. Desde então essas pobres serpentes tiveram que se virar para sobreviver nesse pequeno espaço de terra. E entrou mais uma vez a tal evolução fazendo as transformações necessárias para perpetuar a espécie em um local que não existe nem água potável. Como são sortudas essas cobras, pois a água que empossa das chuvas são suficiente para hidrata-las por um longo período. Mas voltando a evolução, todos sabem que o principal alimento da cobra são os roedores, mas como viver em uma dieta de carne vermelha se não existe mamífero. Cobra vegetariana seria demais, mas como diz Jorge Ben Jor, canja de galinha não faz mal a ninguém, e assim as aves de passagem pela ilha em suas migrações passaram a ser o alimento. E com isso as cobras aprenderam a subir e prender-se nas árvores pela calda para caçar enrolando em forma de um laço em volta dos galhos e se sustentar pendurada. 

A peçonha também foi outro fator na evolução, se não tivessem ficado mais forte a ponto de matar a presa em segundos, correria o risco do jantar sair voando e parar no mar. Para ajudar na camuflagem a cor da pele tornou-se menos vistosa, um ocre variando até um marrom claro para chamar pouca atenção. A solução encontrada pela natureza para épocas de superpovoamento ou escassez foi torna-las hermafrodita. Quando em determinada época ocorre ali maior presença de machos, ou vice-versa, algumas desenvolvem o sexo oposto para perpetuar a espécie. O site Listverse, especializado em listas diversas de melhores e piores sobre todos os assuntos, em 2010, elegeu a ilha como o pior lugar do mundo para se visitar, à frente da zona contaminada de Chernobyl. 

Impressionante como um animal que carrega o pesado fardo da morte, pode trazer consigo a esperança da vida. Através do estudo do veneno da jararaca, em 1948, pesquisadores brasileiros descobriram o vasodilatador bradicinina, que tem ação anti-hipertensiva e deu origem ao importante medicamento Captopril. Mais tarde em 2011, graças também ao estudo do veneno da jararaca surgiu o Evasin. Estudiosos acreditam que pesquisas realizadas com o veneno da jararaca-ilhoa, que só existe na Ilha brasileira, podem resultar em remédios de grandes benefícios para humanidade. 

Para ambientalistas as propriedades ainda inexploradas do veneno tornam essas cobras um alvo cobiçado da biopirataria. Pessoas inescrupulosas de outros países se aproveitam da distância da ilha para costa e caçam as cobras ilegalmente para leva-la para o exterior. A coleta de espécies na ilha tem que ser autorizada pelo IBAMA e a retirada de exemplares sem o consentimento constitui um grave crime perante a lei de proteção à fauna e as forças armadas. Então nos levantemos contra todos os estrangeiros que invadirem e explorarem nosso território. Vamos dizer para eles que aqui nós matamos a cobra e mostramos o pau. Ou melhor, salvamos as cobras e metemos o pau.

Texto publicado em 9 de outubro de 2013 no Blog do Vovozinho.
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