terça-feira, 31 de março de 2015

CAIU, CAIU, PRIMEIRO DE ABRIL


Corri no guarda-roupa e escolhi a camisa mais branca, quero entrar o novo ano com muita saúde. A bermuda, até tentei achar amarela, mas infelizmente não tenho nenhuma para emburacar o ano com dim-dim no bolso. Mas o que não falta é imaginação, então logo arrumei aquele jeitinho para dar aquela enrolada na simpatia popular. Pensando bem, bermuda posso usar uma vermelho paixão, e a cuequinha, essa sim amarela, vai ser a responsável pelo “faz me rir”. Ah, comprei também uma caixa de morteiro 3 tiros para acordar a vizinhança e recepcionar com muito barulho o ano que chega.

Ano que chega em abril?

Pois é, antigamente era assim. Desde o começo do século XVI, o ano-novo era comemorado em 25 de março, com a chegada da primavera. As festas, que incluíam troca de presentes e animados bailes que rolavam a noite adentro, durante uma semana, só  terminando 1º de Abril. Em 1562, o Papa Gregório XIII (1502-1586) instituiu um novo calendário para o mundo cristão – o chamado calendário gregoriano – em que o ano começava em  1º de janeiro. Porem, nem todos os reis resolveram de imediato adotar o novo calendário, como foi o caso do rei francês Carlos IX (1560-1574) que só seguiu o decreto papal dois anos depois em 1564, e mesmo assim, os franceses que resistiram à mudança, ou ignoraram ou esqueceram, mantiveram a comemoração na antiga data. E como “troladores” existem desde os primórdios, não perderam a chance de dar uma sacaneada nessa gente. Começaram a ridicularizar esse apego enviando aos conservadores adeptos do calendário anterior – apelidados de “bobos de abril”  - presentes estranhos e convites para festas que não existiam ( QUE SACANAGEM! ). Com o tempo a brincadeira tomou o país e 200 anos depois chegou à Inglaterra, e hoje é conhecida em várias partes do mundo, inclusive aqui no Brasil.

Então estou contando as horas para estourar minha cidra Cereser, pois champanhe francês não dá né. E convenhamos, onde esta a regra que a comemoração tem que ser  com champanhe e não cidra? O que vale mesmo é a rolha sair com pressão e dar aquele banho lambuzando quem esta em volta.

Enquanto termino esse texto, o ponteiro menor esta no onze e o maior esta entrando no seis, então tenho que correr.

BOM ANO NOVO PARA TODOS, OU CAIU, CAIU, PRIMEIRO DE ABRIL!

sábado, 28 de março de 2015

Rosas e a Santa Isabel

Imagem: Alex Wolbert./Montagem: Tafulhar

            Embora tenham vivido em épocas distintas, Célia e Mário tinham mais que um “Rosa” como coincidência em suas vidas. Possuíam o dom de educar além de uma Santa aparecer na vida de ambos...

            Há mais ou menos 340 anos antes de ser declarada santa pelo Papa Urbano VIII, Isabel Aragão desfrutava da coroa de Portugal como rainha consorte do rei D. Dinis. Era muito popular e, ainda viva, era tida como santa para muitos. O povo a chamava de Rainha da Paz, pois conseguiu esfriar os ânimos de uma iminente guerra entre pai e filho. Dom Dinis tinha um filho bastardo chamado Afonso Sanches, seu filho e herdeiro. D. Afonso, sentindo-se ameaçado, declara abertamente a intenção de uma batalha contra seu próprio pai. Nesse momento, a rainha Isabel intercede e apazigua a situação, impedindo o confronto conhecido como "Batalha de Alvalade".

            Era inegável o carisma de Isabel. Mas para ser santa, tem que fazer milagre. Segundo a lenda, ele veio em forma de rosas.

            O rei D. Dinis já teria sido informado sobre as ações de caridade de D. Isabel e quanto isso doía no seu bolso real. A rainha não poupava quando o assunto era ajudar aos pobres. Era costume a rainha distribuir esmolas e pães aos necessitados. Durante um desses dias, o rei resolveu interpelá-la, perguntando o que levava no colo. “São rosas, meu senhor!”. Desconfiado o rei acusou-a de estar mentindo, pois era impossível ter rosas em pleno inverno de janeiro. A rainha mostrou aos olhos espantados de todos as belas rosas que levava no colo.

Acervo UH/Folhapress. A tragédia do Gran Circo Norte-Americano, em 1961, causou mais de 500 mortes e foi o incêndio mais mortal na história do país.


            Célia Pereira da Rosa nunca foi declarada santa pela igreja católica. Mas, desde jovem, se preocupou com o próximo, principalmente com os mais pobres. Atuou intensamente no socorro das vítimas do Gran Circus Norte-Americano, em 17 de dezembro de 1961 e, um ano depois, liderou o segundo distrito em uma ação de auxilio aos desabrigados das enchentes que assolaram o município de São Gonçalo. Entretanto, foi na educação que a professora Célia Rosa ganhou o respeito de toda comunidade.

            Célia nasceu em 3 de fevereiro de 1915, em Santa Isabel, 2º distrito de São Gonçalo. Era filha do Capitão da Guarda Nacional, Raphael Rosa, também dono da fazenda de cordeiros ou Santa Isabel. O nome da santa foi dado por Dona Isabel Alves Sodré, esposa de José Mariano, quando, no final do século XIX, o casal dono da terra cedeu uma área para construção da Estação de Ipiíba, parte da saudosa Estrada de Ferro Maricá. Muito devota de Santa Isabel, Dona Isabel pediu que fosse dado o nome da santa à estação. Depois, apareceu a empresa de ônibus Santa Isabel, a padaria Santa Isabel, armazém Santa Isabel e até a estrada de rodagem Santa Isabel.

            A localidade é sede do segundo distrito de São Gonçalo, cujo nome oficial é Ipiíba. Já foi chamada de Freguesia de Cordeiros, Vila José Mariano e Vale do Ipiíba. Nos séculos XVIII e XIX, foi um grande centro comercial e produtor agrícola. De lá, saía grande parte das laranjas para exportação. Também foi chamada "terra da laranja".

            Na terra da laranja, Célia começou a sua jornada de ensinar. Fez seu curso primário na Escola Estadual Santa Isabel, com a professora Bolívia Gaetho, e lá começou a lecionar como professora substituta. Célia não parou mais. Alfabetizou os funcionários que trabalhavam na fazenda do pai, que não sabiam ler nem escrever. Vendo a vocação da filha, o pai cedeu um terreno e a presenteou com a tão sonhada escola.

            O Ginásio Comercial Santa Isabel foi a primeira escola a ter curso ginasial na localidade. Começou pequena, onde atendia às crianças da comunidade. Conforme Santa Isabel crescia, a escola se desenvolvia também.

            Não só a escola, mas a Igreja Nossa Senhora da Conceição e Santa Isabel passou a ser pequena para tamanha quantidade de fiéis. Em 1960, foi preciso restaurá-la, sobre a responsabilidade do Padre Theodoro Peters. Essa restauração incluía a substituição da imagem da Santa Isabel do altar por uma maior.

 
Professora Célia Rosa (foto) abraçada com outro professor. Formatura década de 70. Local: Ginásio Comercial Santa Isabel. Acervo Pessoal.


            Por ser uma católica atuante na igreja, o então padre Theodoro presenteia Célia Rosa com a antiga imagem de Santa Isabel. Célia toma pra si a responsabilidade de zelar pela imagem da santa. Colocou-a destacada no seu colégio, de forma que todos os alunos e professores pudessem admirá-la.

            Todos que passeavam pelo pátio da escola admiravam a imagem de Santa Isabel. Mas nenhum olhar era como o olhar do menino Mário Rosa.

            Embora tenha rosa no nome, Mário não tinha nenhum grau de parentesco. Mas assim como Célia, o menino possuía o dom de lecionar. Conforme o menino crescia e se qualificava, esse dom aflorava cada vez mais, sem apagar as lembranças dos recreios no colégio ginasial, sempre vigiado e amparado por Santa Isabel.

            Mário Rosa nasceu em Santa Isabel e foi um dos primeiros alunos do Ginásio Comercial Santa Isabel. Dando continuidade à sua formação técnica, estudou química no Colégio Plínio Leite, em Niterói, e concluiu o ensino superior na Faculdade de Formação de Professores da UERJ, em São Gonçalo.

            Mário não era mais um menino quando Célia faleceu, em 7 de dezembro de 1991. Já era um professor formado e era contratado pela rede municipal de São Gonçalo. Mas sem esquecer suas origens e lembranças, aceitou o convite de lecionar no colégio que abriu seu caminho como professor. E lá, teve a oportunidade de rever a imagem de Santa Isabel, que esteve ao seu lado durante os recreios no pátio da escola.

            Antes de falecer, Célia Rosa expressou seu desejo de doar o colégio ao município para atender às crianças mais carentes. Assim foi feito. Professor Mário Rosa ganhou o maior de seus presentes, quando no ano de 2002, pelo então secretário de educação do município, o professor Hélter Barcellos, o colégio passou a funcionar pela rede municipal de ensino com o professor Mário como diretor geral. Foi o próprio Mário que sugeriu o nome: Colégio Municipal Célia Pereira da Rosa, em homenagem a tudo o que ela fez pela educação de Santa Isabel.

            Segundo Helter Barcellos, o Colégio fundado por Célia Rosa era propriedade da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. Foi adquirido pela Prefeitura de São Gonçalo na gestão do prefeito Henry Charles, reformado totalmente e integrado à rede municipal.

            Há 12 anos, Mário cumpre seu papel de educador como diretor da escola. Ele também é tutor da imagem centenária de Santa Isabel, que pertenceu à antiga capela da região. Um patrimônio importantíssimo que mantém viva a história do bairro.

            Rosas são sinônimos de amor e acompanham Santa Isabel antes mesmo de virar santa no século XIII, quando apareceram em forma de milagre salvando-a do rei D. Dinis de Portugal. E aqui, na cidade de São Gonçalo, os dois “rosas”, Célia e Mário, provam que essa relação de amor entre rosas e a santa continua viva.



Referências:
IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÂO E SANTA ISABELhttp://www.oocities.org/eac_pachecos/santaisabel.htm
MATA E SILVA, Salvador e MOLINA, São Gonçalo no século XIX (1999)
MATA E SILVA, Salvador e MOLINA, Eles Nasceram em São Gonçalo (1995)

Texto publicado em 17/04/2014 no Tafulhar.com.br.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Antigo Museu do Índio


O casarão tem um valor simbólico para os índios por conta de sua história. Seu primeiro proprietário foi o Duque de Saxe, que em 18 de julho de 1865 doou o espaço à União para transformá-lo num Centro de Pesquisa sobre a cultura indígena, onde abrigou a Escola Nacional de Agricultura, atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), na baixada fluminense. Décadas depois o prédio virou a sede do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), criado pelo Marechal Cândido Rondon em 1910, que estabeleceu as bases da política indigenista republicana. O SPI funcionou no Rio até 1962, quando foi transferido para Brasília, e no golpe de 64, tendo como diretor o grande Noel Nutels, os militares tomaram conta da instituição abandonando a obra de Rondon. Com a pressão interna e internacional, resolveram extinguir o SPI e criar a Fundação Nacional do Índio (Funai), em novembro de 1967.
Foto antiga sem data
No dia 19 de abril de 1953, mesmo dia em que Darcy Ribeiro instituiu o Dia do Índio, foi inaugurado um Museu do Índio no local. O Museu do Índio ficou no prédio do Maracanã até 1977, quando foi transferido para o prédio que servia ao Instituo Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), em Botafogo, na zona sul carioca, onde também funciona hoje a Funai no Rio de Janeiro. Fora de funcionamento, a União passou a titularidade do terreno para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em setembro de 1984. Dois anos depois o Ministério da Agricultura se responsabilizou pelo prédio. O prédio atualmente é todo deteriorado e pichado por fora, por dentro é só o esqueleto.
O local foi ocupado em 2006 por um grupo de vinte indígenas de diversas etnias e batizado como Aldeia Maracanã. Em 22 de março de 2013 através de força policial e muito protestos de diversos segmentos sociais e políticos os índios foram retirados do casarão.
Policiais do Batalhão de Choque cercam o antigo Museu do Índio
O prédio foi finalmente tombado em 9 de agosto de 2013 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).

Texto publicado em 26 de março de 2012 no Grupo Rio Antigo.

Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem

Ilha da Boa Viagem - Niterói
Construída na ilha de mesmo nome, na Baia de Guanabara em Niterói, por ordem de Diogo Carvalho Fontoura pelos meados do seculo XVII por um doação em moedas do testamento de um senhor de nome José Gonçalves. Sua conclusão data de 1734, como se lê na lápide existente em sua parede do lado da escadaria: “sendo mra. Amaro da Sva. Eng. dor. J. de Farias, r. o pre. mel. ces. de C. e mais 173 devotos”. Em 1846, foi reformada pelo engenheiro provincial Pedro Toulois. Por volta de 1702 o capitão-governador Luís Cesar de Menezes construiria na ilha de Boa Viagem o denominado “Forte da Barra”.

Numa festa realizada em 8 de Dezembro de 1870, incendiou-se e só foi reconstruída, em 1909, pela Associação Protetora dos Homens do Mar, quando se restabeleceu o culto de Nossa Senhora dos Navegantes. Em 1911, o Governador Oliveira Botelho dotou-a de luz elétrica. Em 1918, extinta a Associação, a ilha passou à jurisprudência do Ministério da Marinha, e a imagem de Nossa Senhora foi recolhida à capela do hospital da corporação.
Cartão Postal
Novamente abandonada, em ruínas, a igreja foi reconstruída pelo Prefeito Gustavo Lira, sendo as obras dirigidas por José Mariano Filho e inauguradas em 2 de Setembro de 1934, com uma procissão marítima trazendo de volta a imagem da padroeira. Prevendo novo abandono, o Ministério da Marinha resolveu deixar a igreja sob a guarda dos escoteiros do mar sediados na ilha.
Incendiada novamente, em 25 de Outubro de 1977, foi restaurada, sob a orientação do engenheiro Hesíodo Castro Alves Filho, não só a igreja, mas também outras instalações e a ponte de concreto armado. Para custear as despesas do culto instituiu-se uma irmandade de pescadores e homens do mar. 

Todas as embarcações que aportavam ao Rio de Janeiro pagavam de boa vontade uma quantia para a manutenção do templo.

Em 1938 foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Brasileiro.
As visitas podem ser efetuadas no quarto Domingo de cada mês, a partir das 8:00h, constando o roteiro de missa, apresentação de música sacra e visita guiada pelo conjunto.
Texto publicado em 30 de março de 2012 no Grupo Rio Antigo.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Gentileza Gera Gentileza


Assim que arbitro apitou o fim da partida entre Vasco e Flamengo neste sábado, alguns torcedores inconformados com o resultado do jogo quebraram cadeiras no estádio. Eu cá comigo: - Vai adiantar esse “chilique”? Passou, agora é esperar o próximo jogo e torcer pelo time de coração, sendo flamenguista ou vascaíno.
Não sei por que, mas Lembrei de quando era jovem e ainda fazia estagio no centro da cidade, dormindo e babando no ônibus e frequentemente era acordado, sempre no mesmo lugar, no sinal em frente a Central do Brasil com gritos de “SAI DAÍ MALUCO”. Era um velhinho baixinho e barbudão que se vestia de branco e levava um cartaz com escritas em verde e amarelo com palavras AMOR, PAI ,GENTILEZA, entre outras. Xingavam, gritavam, chamavam de maluco, mas o velhinho não se intimidava e retrucava: "Sou maluco para te amar".
Profeta Gentileza

José Datrino, mais conhecido como profeta Gentileza era paulista dono de uma transportadora largou tudo em Sampa e veio para Niterói logo após o incêndio ao Gran Circus Norte-Americano, considerado até hoje a maior tragédia circense no mundo,onde mais de 500 pessoas morreram. Gentileza pegou um de seus caminhões e foi fazer acampamento no lugar da tragédia, onde hoje é a Policlínica Militar de Niterói. Plantou um jardim e horta sobre as cinzas do circo, local que um dia foi palco de tantas alegrias, mas também de muita tristeza. Aquela foi sua morada por quatro anos. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Foi a partir dali que nasceu o “Profeta Gentileza”. Gentileza deixou sua marca nas pilastras do viaduto do Caju, foram 56 escrituras nas cores verde-amarelo onde deixava sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização.
Com o decorrer dos anos, os murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo, e mais tarde cobertos com tinta de cor cinza. A eliminação das escritas foi criticada e posteriormente com ajuda da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, foi organizado o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar os murais das pilastras. Começaram a ser recuperadas em janeiro de 1999. Em maio de 2000, a restauração das inscrições foi concluída e o patrimônio urbano carioca foi preservado.
Viaduto do Caju
Concluo a minha postagem não levantando nenhuma bandeira religiosa. Independente de qualquer religião a frase pregada por esse velho barbudo, “GENTILEZA GERA GENTILEZA”, é o princípio para qualquer pessoa que ama ao próximo como a si mesmo, e assim como Gandhi sendo de religião hinduísta, foi admirado e respeitado por mulçumanos e cristãos, fazendo da Índia um pais livre sem apontar uma arma, ao contrário disso, pregando o amor e o respeito uns aos outros.
Então meus amigos VASCAINOS, FLAMENGUISTAS, PALMERENSES, CORINTHIANOS, ENTRE OUTROS respeitem uns aos outros. Não é porque essa pessoa torce por um time que não é o seu, ela é diferente de você. Essa pessoa merece ser respeitada e tratada do mesmo jeito que gostaria de ser tratado, COM GENTILEZA.
Texto publicado em 8 de abril de 2012 no Grupo Rio Antigo.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Cine São José - Centro de São Gonçalo


Esta é a foto do antigo Cine São José fundado em 1932 na Rua Cel. Moreira Cesar 45, centro de São Gonçalo. Tinha capacidade para 900 lugares com uma média anual de 599 sessões e 58.579 espectadores. Atualmente o espaço é ocupado pela Igreja Universal. Reparem o sobrado ao lado, resiste até hoje.



Texto e foto publicados em 27 de agosto de 2012 no Grupo Rio Antigo.

Palácio dos Correios e Telégrafos de Niterói



Palácio dos Correios e Telégrafos de Niterói
Na última sexta-feira(21/03/2014) um dos principais patrimônios arquitetônicos da cidade de Niterói prestes a completar 100 anos foi reinaugurado após seu fechamento em 2011, o Palácio dos Correios e Telégrafos. Além de abrigar a principal agencia dos correios da cidade também será destinado a atividades culturais.

A capital do estado do Rio de Janeiro em 1912 não comportava mais os movimentos postais e personalidades da cidade reivindicaram junto ao presidente da república Marechal Hermes da Fonseca que imediatamente solicitou para seu ministro dos transportes José Barbosa Gonçalves atendesse aos niteroienses. Foi comprado um terreno em frente às estações das barcas e coube a responsabilidade da planta e da construção ao engenheiro  Leopoldo Cunha que se utilizou de um estilo de arquitetura muito comum  no final do século XIX e início do XX, o Art Nouveau.

Marechal Hermes da Fonseca
                                                    
Considerado na época o maior prédio da cidade o palácio foi inaugurado em 14 de novembro de 1914 com a ilustre presença do presidente da republica.  E foi também o último ato público de Marechal Hermes da Fonseca que no dia seguinte passou o governo ao presidente eleito Wenceslau Brás. O presidente que teve seu governo marcado por conflitos internos e externos e um deles foi à primeira guerra mundial.

O prédio possui 3 pavimentos com  1,2 metros quadrados por andar e é tombado pelo INEPAC desde 27 de agosto de 1990. Localiza-se na Rua Visconde do Rio Branco, 481 centro de Niterói.


Venceslau Brás declarando guerra à Alemanha, acompanhado de Nilo Peçanha (em pé) e Delfim Moreira (sentado) Crédito: Serviço de Documentação da Marinha do Brasil

Texto publicado em 23 de março de 2014 no Blog do Vovozinho.

sábado, 21 de março de 2015

Gentileza Gera Gentileza Também em São Gonçalo




            A vida já nos ensina desde criança. Tomamos como exemplo aquela simples experiência de ciências  que tivemos na escola onde plantamos no chumaço de algodão uma semente de feijão.  Aprendemos muito mais que os estágios de crescimento da plantinha, aprendemos que precisa ser cultivada para germinar e crescer até que chegue ao tamanho em que possa ser plantada direto na terra e fazer valer o dito popular de que colhemos o que plantamos.


            Sem querer filosofar, e já filosofando, aprendemos que devemos fazer três coisas antes de morrer. Plantar uma arvore, ter um filho e escrever um livro. Mas se analisarmos todas as três se resume a uma só, plantar. Quando escrevemos um livro, plantamos um pedacinho dos nossos conhecimentos para gerações futuras. Quando temos um filho plantamos um pedacinho de nós mesmos para o mundo. Então passamos nossa vida inteira plantando. 

            Fazemos nossas escolhas quanto à semente plantar. Dentre os horticultores os que plantam e cultivam amor tem a minha admiração. É o caso de José Dautrino, o paulista que abdicou de tudo na vida, casa, trabalho e veio plantar em Niterói o melhor dos jardins.


José Datrino, O Profeta Gentileza.

            No dia 23 de dezembro de 1961, seis dias depois do incêndio do Gran Circus Norte-Americano,  José Datrino acordou determinado em fazer alguma coisa em prol das pessoas que sofriam com a perda dos entes queridos pela tragédia. Então, rumou em direção a Niterói e bem no lugar onde o fogo consumiu mais de 500 pessoas, a maioria crianças, Dautrino plantou sobre as cinzas o mais belo jardim e a mais bela horta e ali ficou por 4 anos curando as feridas de familiares envolvidos na tragédia com palavras de amor e bondade. Alí, naquele cantinho marcado por uma tragédia nasceu o Profeta Gentileza.

            Naquele mesmo ano de 1961 enquanto Gentileza, cultivava o seu jardim em Niterói, nascia no bairro da Covanca em São Gonçalo, Aílton Silveira. Ele não sabia, mas o destino reservaria pra aquele menino pobre o mesmo dom que dera ao paulista Dautrino.   
        
            Da Covanca, Aílton foi ainda criança parar em um quartinho no alto do morro do bairro de Tenente Jardim em Niterói morando com a sua avó e seus dois primos, Jorge e Nazareth. Sua avó trabalhava duro para dar o que comer para os netos e as condições eram precárias, não dormiam em colchões e sim em uma esteira de palha dura. O prepara da comida era em um fogareiro onde se catava madeira como lenha. Banheiro não existia.


Alex Wolbert entrevistando Aílton, o profeta gonçalense.Imagem: Alex Wolbert
    
            Com tanto sofrimento, Aílton nunca teve a oportunidade de estudar, e com 14 anos montou um carrinho com ripas e rodinhas de rolimã e corria para  feira levar as bolsas de compras das senhoras.  Com o dinheiro da generosidade dessas mulheres Aílton vivia. No final da feira, ele catava sobras de frutas e legumes que podia alimentar a ele e seus primos. O dinheiro que conseguia com o transporte deixava todo ele na mão da sua avó.

            Ao completar 21 anos, sem nunca ter entrado em uma escola, Aílton era analfabeto e só depois de muito esforço pessoal, conseguiu desenhar seu próprio nome. Foi graças a esse esforço e mesmo sem entender, mas agradecendo a Deus, que conseguido um emprego de cobrador de ônibus na a Viação Garcia. Não sabia ler nem escrever, e muito menos fazer contas, mas Aílton com uma blindagem de armadura passava um dia após o outro gravando as cores das notas e aprendendo a fazer conta naquele banco que não era o da escola, e sim o da vida. Com o coração que não cabia no peito, as vezes tirava do próprio bolso para completar a passagem de alguém que não podia pagar.

               Ailton, além de aprender a fazer conta, teve a oportunidade de aprender o oficio de servente de pedreiro e foi nessa época que seus olhos avistaram Andreia. Amor a primeira vista. Andreia conquistou o coração do rapaz e logo marcaram o casório, mas infelizmente o amor não foi adiante e com apenas um ano de casados o casal se separou. Aquele ponto da história de Ailton foi crucial para sua escolha de vida.
     

CIEP 422- Nicanor Pereira Nunes. Imagem: Alex Wolbert
            Nas palavras do próprio Aílton, onde ele diz que na bíblia aquele que não vem por amor, vem pela dor. E assim foi com ele, chegou à igreja Assembleia de Deus, pela dor de um coração apaixonado que não queria desistir do amor de Andréia.  As lágrimas saiam como rios pensando na amada. Não tinha força para nada. Deixou de comer e o pastor foi seu único amigo e conselheiro. Com o aval do pastor, Aílton fez a igreja de moradia e entendeu que aquele era seu destino. Estava casando novamente, mas nada de noivas, e sim Jesus Cristo.

            Então aceitou a Jesus e mais a vida que lhe foi escrita para ser vivida. Passou a morar sozinho, e falar do amor de Deus para todos ao seu redor. Conseguiu um emprego como vigia na sede da Fundação Parques e Jardins de São Gonçalo e lá pregou amor e bondade e assim como o Profeta  Gentileza, plantou e cultivou no terreno da sede uma horta.


Estrada do Rocha, Água Mineral, São Gonçalo (RJ). Imagem: Alex Wolbert

            Hoje, já aposentado Aílton continua ali no mesmo lugar, na Estrada do Rocha, na região da Água Mineral, falando para todos que passam do amor de Deus. Mora lá em cima do morro e com o dinheiro da aposentadoria paga com muita dificuldade um aluguel que por muitas vezes não sobra para se alimentar. Mas como ele mesmo diz, Deus está no poder e amigos ajudam com quentinhas.

            Não é à toa que a passagem favorita de Aílton é João 3:16 : “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu único filho, para que todos que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.”   Independente de qual seja o seu credo ou religião, católica, evangélica, espírita, candomblecista, umbandista ou até mesmo ateu há de se convir que sem amor nada seriamos, como na letra do poeta. 

            De gênio e louco todos nós temos um pouco. Então parabéns a esses “loucos” como o paulista Datrino e o gonçalense Aílton que semeiam  amor por onde passam. 

Afinal de contas:


Assista AQUI o vídeo do Making of da entrevista:

Texto publicado em 7 de julho de 2014 no www.tafulhar.com.br.


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