domingo, 30 de junho de 2019

Literatura e Futebol - Avaí Futebol Clube

Estamos próximos da abertura do brasileirão 2019 e gostaria de saber se você é como a maioria dos brasileiros, apaixonado por futebol, ou é daqueles que não está nem aí para time nenhum. É daqueles que quando te perguntam qual o seu time você mais que depressa responde:  “-Sou Brasil”.
Independentemente de você ser ou não um apaixonado, vou te provar através de várias publicações, cada uma relacionada à um time da série A que disputará o campeonato brasileiro desse ano, que futebol combina sim com literatura. E hoje é dia de falar do leão da ilha, do time da raça, do querido Avaí Futebol Clube.
O Avaí nasceu no dia primeiro de setembro do ano de 1923 quando senhor Amadeu Horn, um famoso comerciante de Floripa, resolveu doar um kit completo de uniforme (na época chamado de ternos) com a camisetas listradas em azul e branco, e calções e meias azuis em homenagem ao Clube de Remo Riachuelo. Em uma reunião na própria casa do comerciante para fundar o novo clube, a princípio ficou definido que o nome seria Independência, mas um dos membros que chegara atrasado na reunião achou o nome muito grande para a torcida gritar e incentivar o time, até a torcida acabar de gritar independência o time adversário já teria empatado o jogo. Disse Arnaldo Pinto de oliveira na reunião. E ele foi além, como estava lendo um livro sobre a história do Brasil sugeriu o nome Avahy em homenagem a Batalha do Avahy. Nesse momento os participantes da reunião puxaram o coro gritando: Avahy, Avahy, Avahy!
Ficou conhecido como o Leão da Ilha na década de 50 Quando o Olímpio Sebastião Silva fez comparação na rádio Florianópolis da bravura do time a de um leão e assim chamou-o de Leão da Ilha.  
Bom, falamos um pouquinho do clube, mas o que faz a combinação com a literatura?
A literatura é a arte da palavra, é a arte de criar textos. E muitos desses gênios que se destacam na literatura são apaixonados por futebol e pelo seu clube de coração. E no caso no Avaí um desses apaixonados foi cantor, violinista, compositor e músico de referência internacional Luiz Henrique Rosa. Junto com João Gilberto, Tom Jobim e Vinício de Moraes foi um dos propulsores da Bossa Nova.
Luiz Henrique nasceu em Tubarão em 25 de novembro de 1938, e aos 11 anos mudou-se para Floripa, cidade que se apaixonou e cantou em seus versos até o ultimo dia de vida.
Mudou-se para a cidade maravilhosa em 1961 onde gravou seu primeiro disco. Teve a oportunidade de tocar ao lado de Elis Regina no Beco das Garrafas.
No auge da Bossa Nova em 1965, Luiz Henrique Rosa foi morar na cidade de Nova York e conviveu com grandes nomes da música por lá.  E lá ficou até 1971, quando bateu a saudade de Floripa então voltou para sua cidade e seu time de coração, o Avaí.
Era tão apaixonado por futebol e pelo seu clube que em 1971 compôs a música do hino do Leão da Ilha. Junto com Fernando Bastos, que fez a letra, foram para extinta Radio Jornal A Verdade de Florianópolis e apresentaram-na no programa “Zero Hora Esportiva”. Logo em seguida foi feita a primeira gravação do hino com 1.500 discos produzidos.
Infelizmente, Luiz Henrique Rosa nos deixou muito sedo, em 1985 com apenas 46 anos, vítima de um acidente de carro.
Esse torcedor ilustre gênio da composição teve mais de 200 canções na curta carreira de 25 anos.
Bem amigos, quem vai continuar dizendo que futebol, literatura e música  não se misturam? Estão tão misturadas como nosso tradicional arroz com feijão. E essa mistura perdurará enquanto houver corações literários apaixonados por futebol ou vise versa.
Publicado em 05 de abril de 2019 no blog do Recicla Leitores


“Vou torcer pro Leão ser campeão
Na Ressacada , meu caldeirão
E a Mancha canta
Insentivandoooo
É o Avai
No meu coraçããããão
Vou torcer pro Leão ser campeão
Na Ressacada , meu caldeirão
E a Mancha canta
Insentivandoooo
É o Avai
No meu coraçããããão”

Literatura e Futebol - Clube Atlético Mineiro


Estamos próximos da abertura do brasileirão 2019 e gostaria de saber se você é como a maioria dos brasileiros, apaixonado por futebol, ou é daqueles que não está nem aí para time nenhum. É daqueles que quando te perguntam qual o seu time você mais que depressa responde:  “-Sou Brasil”.
Independentemente de você ser ou não um apaixonado, vou te provar através de várias publicações, cada uma relacionada à um time da série A que disputará o campeonato brasileiro desse ano, que futebol combina sim com literatura. E hoje é dia de falar do Galo Doido, do alvinegro mineiro, do time impossível, do querido Clube Atlético Mineiro.
O Clube Atlético Mineiro nasceu na cidade Belo Horizonte em 25 de março de 1908 por um grupo de estudantes. Quase um ano depois, em 21 de março de 1909 disputou sua primeira partida oficial vencendo por 3 a 0 o Sport Club Foot-Ball e o primeiro gol da história do galo você, “-Sabe de Quem?”, como diria Luis Roberto em sua envolvente narração. Nada mais nada menos que Aníbal Machado. Isso mesmo meus amigos, anos depois ele se transformaria em um dos maiores escritores da literatura brasileira. Um craque na bola e na literatura. Mas antes de falar nele vamos continuar a falar um pouco mais do querido galo mineiro.
Em 30 de maio de 1929 o Atlético Mineiro inaugura o primeiro estádio de futebol de Minas Gerais, o Estádio Presidente Antônio Carlos, com capacidade para cinco meil pessoas. O estádio foi demolido em 1994 para construção do shopping Diamond Mall.
O galo, o mascote do clube, surgiu no finalzinho da década de 30 das mãos do chargista Fernando Pierucetti, o Mangabeira. 15 anos depois foi redesenhado. Porquê galo? O animal passa a imagem de raça e perseverança. Um galo de briga nunca se entrega e luta até a morte.  
Bom, falamos um pouquinho do clube, e já vimos que dentre todos os clubes o Atlético Mineiro é o que mais combina com literatura.  O primeiro gol da história foi marcado por um escritor jogador, ou um jogador escritor? Bom, vamos entender.
Magrelinho, de 14 anos de idade, Pingo era a grande esperança para aquele time recém-formado que enfrentava naquela tarde chuvosa de 1909 o Sport Club Foot-Ball, a primeira agremiação esportiva de Belo Horizonte. E o moleque não fez feio, meteu logo o primeiro gol da partida, o primeiro da história do galo e também o ultimo da carreira de jogador de futebol. O moleque de Sabará, queria jogar em outros gramados, e foi a luta, mas nunca esqueceu a sua paixão alvinegra. Pingo se transformou em Aníbal Monteiro Machado e logo ingressou na Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, atualmente a FND (Faculdade Nacional de Direito), uma unidade da UFRJ. Apenas 8 anos depois da memorável partida, tornou-se professor de História Universal e crítico de artes plásticas no Diário de Minas, onde trabalhou com o poeta Carlos Drummond de Andrade, que se tornaria um amigo fiel.
Chegou a ser em 1924 promotor público de Minas e no Rio de Janeiro, mas sentia a vocação para área jurídica, então deixou a promotoria parta ser professor de literatura no Colégio Pedro II.
Eleito em 1945 presidente da Associação Brasileira de Escritores e foi responsável por organizar o 1º Congresso Brasileiro de Escritores.
Apesar de já atuar no meio literário bem jovem o seu primeiro livro de contos, “Vida Feliz”, publicou quando tinha 50 anos de idade. Nesse livro encontramos obras-primas do conto brasileiro como “A Morte da Porta Estandarte”.
Os contos “A Morte da Porta Estandarte”, “Tati, a garota”, “O Iniciado do Vento” e “Viagem aos seios de Duilia” ganharam versão para o cinema na década de 60. Manoel Carlos adaptou vários contos de sua obra para telenovela na TV Globo na década de 90.
Pingo, para nós futeboleiros ou Aníbal Machado para nós leitores, também deixou como herança para suas 6 filhas a paixão pelo galo mineiro. E uma delas em especial também foi uma craque nos gramados da literatura. Maria Clara Machado foi a camisa 10 da literatura infantil.  
Bem amigos, quem vai continuar dizendo que futebol e literatura são duas coisas que não se misturam? Estão tão misturadas como nosso tradicional arroz com feijão. E essa mistura perdurará enquanto houver corações literários apaixonados por futebol ou vise versa.
Publicado 05 de abril de 2019 no blog do Recicla Leitores.

“Atlético…
gostamos muito de vocêêê
A alegria de viver…
quando te vemos a vencer…
entidade…
venerada por milhõõões…
contagiando multidões…
de gerações a geraçõõões…
Sentimento…
de amor sincero ao alvinegro…
das alterosas sou mineiro…
minas gerais nosso TERREIRO…”


Literatura e Futebol - Botafogo Futebol e Regatas


Estamos próximos da abertura do brasileirão 2019 e gostaria de saber se você é como a maioria dos brasileiros, apaixonado por futebol, ou é daqueles que não está nem aí para time nenhum. É daqueles que quando te perguntam qual o seu time você mais que depressa responde:  “-Sou Brasil”.
Independentemente de você ser ou não um apaixonado, vou te provar através de várias publicações, cada uma relacionada à um time da série A que disputará o campeonato brasileiro desse ano, que futebol combina sim com literatura. E hoje é dia de falar da Estrela Solitária, do Alvinegro Carioca, do Glorioso, do Fogão do querido Botafogo Futebol e Regatas.
O Botafogo Futebol e regatas nasceu da fusão do Club de Regatas Botafogo, fundado em 1894 e Botafogo Football Club em 1904.
Não é à toa que é chamado de glorioso. Um clube da grandeza da história do Botafogo merece ser chamado assim. Em 1874, O Almirante Luiz Caldas fundava o Grupo de Regatas Botafogo, pois estava desgostoso com o antigo clube que defendia, Clube de Regatas Guanabarense. Em 1891, Luiz Caldas foi preso durante a Revolta Armada e veio a falecer 8 dias antes da fundação oficial do grupo de regatas batizado oficialmente como Club de Regatas Botafogo.
Naquele ano, ninguém segurava o Botafogo em regatas, Diva, a embarcação botafoguense virou lenda na Bahia de Guanabara. Foram 22 regatas vencidas, todas que disputou.
Em paralelo a isso, em 1904, no Largo dos Leões no bairro do Humaitá, surgia o Electro Club, um clube de futebol. A associação surgiu da ideia de dois amigos estudantes de 14 anos do Colégio Alfredo Gomes. Porém o nome Electro não durou muito, pois Dona Chiquitota, avó materna de um de Flávio, um dos amigos, e dona da casa onde acontecia a reunião, sugeriu a mudança do nome para Botafogo usando o seguinte argumento: “Ora, morando onde vocês moram, o clube só pode se chamar Botafogo”.   
A fusão entre os dois clubes, tornando o glorioso o que é hoje, aconteceu oficialmente em 8 de dezembro de 1942. A união veio depois de um triste acontecimento. Em junho do mesmo ano, os dois clubes disputavam uma partida de basquete pelo Campeonato Estadual. No intervalo da partida em que o Botafogo Futebol Clube ganhava de 23 a 21, Albano, jogador do BFC caiu em quadra vítima de e um ataque fulminante.  O corpo de Albano saiu de General Severiano e quando passou em frente ao Morisco, sede do Club de Regatas Botafogo, o então presidente Augusto Frederico Schimidt disse: “Comunico nesta hora a Albano que a sua última partida resultou numa nítida vitória. O tempo que resta do jogo interrompido os nossos jogadores não disputarão mais”. Em resposta à generosidade do adversário o presidente do Botafogo Football Club, Eduardo Góis Trindade, disse: “Nas disputas entre os nossos clubes só pode haver um vencedor, o Botafogo!” Schimidt então selou a fusão: “O que mais é preciso para que os nossos dois clubes sejam um só?”.  Assim nasceu o Botafogo Futebol e Regatas.
Bom, já falamos da fantástica história do Botafogo, mas onde entra a literatura? O que nosso glorioso tem em comum?
Tudo em comum, pois quem foi o responsável pela fusão entre os dois clubes homônimos trazendo o nascimento do fogão que conhecemos hoje? O importante poeta e escritor da segunda geração do modernismo brasileiro, Augusto Frederico Schimidt.  Apaixonado pelo clube, entre 1941 e 1942 foi o último presidente do Club de Regatas Botafogo.  
Seus principais livros são “O Galo Branco” (1948), “Estrela Solitária” (1940) e “Prelúdio a Revolução” (1964), escrito um ano antes do seu falecimento.
Em 1930, fundou a Livraria Católica, que mais tarde se tornaria Livraria Schimidt Editora onde foi responsável por lançar grandes autores como Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, Vinicius de Moraes, Gilberto Freyre, Jorge Amado, dentre outros.
E não é só Schimidt que é gênio literário e apaixonado pelo botafogo. A lista é grande. O próprio Vinícius de Moraes lançado pela editora do amigo botafoguense era também apaixonado pela Estrela Solitária. Em um de seus poemas chamados “Olha Aqui, Mr. Buster” sita a sua paixão pelo botafogo. Vinicius dedica o poema a Mr. Buster, como ele mesmo coloca na introdução do poema:   
* Este poema é dedicado a um americano simpático, extrovertido e podre de rico, em cuja casa estive poucos dias antes de minha volta ao Brasil, depois de cinco anos de Los Angeles, EUA. Mr. Buster não podia compreender como é que eu, tendo ainda o direito de permanecer mais um ano na Califórnia, preferia, com grande prejuízo financeiro, voltar para a “Latin America”, como dizia ele. Eis aqui a explicação, que Mr. Buster certamente não receberá, a não ser que esteja morto e esse negócio de espiritismo funcione. 
“Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills. Está muito certo que em seu apartamento de Park Avenue O Sr. tenha um caco de friso do Partenon, e no quintal de sua casa em Hollywood Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro e de noite para lhe dar insônia Está muito certo que em ambas as residências O Sr. tenha geladeiras gigantescas capazes de conservar o seu preconceito racial Por muitos anos a vir, e vacuum-cleaners com mais chupo Que um beijo de Marilyn Monroe, e máquinas de lavar Capazes de apagar a mancha de seu desgosto de ter posto tanto dinheiro em vão na guerra da Coréia. Está certo que em sua mesa as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas E suas portas se abram com célula fotelétrica. Está muito certo Que o Sr. tenha cinema em casa para os meninos verem filmes de mocinho Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e na fabulosa hi-fi Com alto-falantes espalhados por todos os andares, inclusive nos banheiros. Está muito certo que a Sra. Buster seja citada uma vez por mês por Elsa Maxwell E tenha dois psiquiatras: um em Nova York, outro em Los Angeles, para as duas “estações” do ano. Está tudo muito certo, Mr. Buster – o Sr. ainda acabará governador do seu estado E sem dúvida presidente de muitas companhias de petróleo, aço e consciências enlatadas. Mas me diga uma coisa, Mr. Buster Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster: O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal? O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?” – Vinícius de Moraes
Um outro craque da literatura que não esconde sua paixão pelo Fogão é Luís Fernando Veríssimo que nunca perde a oportunidade de citar o Botafogo em suas crônicas.


“Temos uma maneira curiosa de declarar algumas das nossas predileções. Dizemos “sou Botafogo”, em vez de “torço pelo Botafogo”. ‘Torcer’ nos manteria distante do time preferido, na arquibancada, longe das botinadas do inimigo. ‘Ser’ significa nos identificarmos totalmente com nosso time, ser Botafogo da cabeça aos pés, padecer do que ele padece, vibrar quando ele vibra — enfim, descer da arquibancada.” – Luís Fernando Veríssimo.
E quem foi que disse que mulher não liga para futebol? E quem foi que disse que uma mulher e gênia na arte da escrita não liga para futebol? Sim, Clarisse Lispector gostava de futebol e era apaixonada pelo botafoguense. Vejam parte de uma crônica da escritora publicada no Jornal do Brasil em 30 de março de 1968.


“Deixe eu lhe contar minhas relações com futebol, que justificam o coitada do título. Sou Botafogo, o que já começa por ser um pequeno drama que não torno maior porque sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo. É o seguinte: não me é fácil tomar partido em futebol – mas como poderia eu me isentar a tal ponto da vida do Brasil? – porque tenho um filho Botafogo e outro Flamengo. E sinto que estou traindo o filho Flamengo. Embora a culpa não seja toda minha, e aí vem uma queixa contra meu filho: ele também era Botafogo, e sem mais nem menos, talvez só para agradar o pai, resolveu um dia passar para o Flamengo. Já então era tarde demais para eu resolver, mesmo com esforço, não ser de nenhum partido: eu tinha me dado toda ao Botafogo, inclusive dado a ele minha ignorância apaixonada por futebol. Digo “ignorância apaixonada” porque sinto que eu poderia vir um dia apaixonadamente a entender de futebol.” – Clarisse Lispector 
A lista de craques da literatura que torcem para o Botafogo não para por aí, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, e muitos outros.
Bem amigos, quem vai continuar dizendo que futebol e literatura são duas coisas que não se misturam? Estão tão misturadas como nosso tradicional arroz com feijão. E essa mistura perdurará enquanto houver corações literários apaixonados por futebol ou vise versa.

“E ninguém cala
Esse nosso amor
E é por isso
Que eu canto assim
É por ti Fogo
Fogoôôô
Fogoôôô
Fogoôôô
Fogoôôô
Fogoôôô”


Publicado em 10 de abril de 2019 no blog do Recicla Leitores


Axé Iorubá

Você pode não ter comido ainda, mas certamente já ouviu a palavra acarajé. Assim como ouviu falar também em iemanjá, abadá, amuleto, entre outras palavras que foram incorporadas ao nosso vocabulário que são de origem africana. Essas palavras fazem parte do idioma Iorubá.
Iorubá, tem a sua origem na região sudoeste da África à 6 mil anos. Embora milenar, não tinha forma escrita antes do século XIX. A primeira gramática em iorubá foi publicada pelo Bispo anglicano, nigeriano, Samuel Ajayi Crowther em 1843.
Aqui no Brasil o idioma ganhou força através dos terreiros de Candomblé. O idioma é utilizado como ferramenta de liturgia nos terreiros.
Em setembro de 2018 o idioma iorubá  tornou-se  Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro.  Existe também uma proposta que está transitando em Brasília para inscrever o idioma no Inventário Nacional da Diversidade Linguística, junto ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 
Algumas universidades do Rio de Janeiro como a Unirio, UFF e URFJ possuem cursos de extensão do idioma. O Colégio Pedro II também oferece cursos aos interessados a aprender a cultura iorubá.
Em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, Mãe Márcia D´Oxum, tem um projeto muito bacana. Ela faz oficinas de leitura e contação de histórias em iorubá. Com isso, além de estimular a leitura também propaga a cultura e o idioma para as novas gerações.
Talvez a palavra em iorubá mais representativa na cultura nacional é axé.  Tentar explicar a força da palavra seria um pleonasmo, pois axé já significa vida, força, poder, energia.  Nas religiões afro-brasileiras é a energia e a força sagrada dos orixás.
Sendo no contexto religioso ou não, axé é uma saudação utilizada para desejar felicidade e boas energias.  Então não poderia terminar esse texto sem mandar minhas boas energias para o maravilhoso trabalho dessa sacerdotisa gonçalense  ativista na defesa dos povos de matriz africana e uma das responsável pelo fortalecimento da cultura afro-brasileira no Rio de Janeiro.
AXÉ MÃE MÁRCIA, AXÉ IORUBÁ!

Publicado 23 de abril de 2019 no blog do Recicla Leitores

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O mundo dá voltas, mas para no mesmo lugar


O dia 21 de outubro de 2015 chegou. Enquanto escrevo esse texto, Marty Mcfly está tentando impedir que seu filho vá para cadeia. Porém, o velho Biff não é bobo e zarpa com o DeLorean para 12 de novembro de 1955, e entrega a ele mesmo, no passado, um almanaque com todos os resultados de competições esportivas de 1950 à 2000. Bem, todos já sabem o enredo dessa estória e sabem também que o final é feliz como na maioria da ficção.
Agora, é possível voltar no tempo? E será que, assim como nas telas de cinema, podemos ter finais felizes?
Bom, até agora, o único Delorean que conheço é a leitura. Sim, com livros, revistas e jornais antigos, podemos sim, por alguns instantes, voltar no tempo. Agora, se no futuro vamos ter finais felizes, aí, não sou mãe Dinah para prever.
Uma notinha me chamou a atenção enquanto folheava uma edição do jornal “O São Gonçalo” de 29 de outubro de 1992. Falava sobre a expansão da Igreja Universal do Reino de Deus, passando os limites do território nacional. Assim era a nota com o título de Dízimo Suíço:
“O “bispo” Macedo, não conformado com o dizimo brasileiro, fundou uma sede de sua igreja em Genebra, Suíça, e de lá vem periodicamente um emissário trazendo 50 mil dólares, que é o dízimo das devotas de lá. Lembrando ainda que em sua maioria elas são empregadas domésticas brasileiras que ganham em torno de 15 mil francos, o que equivale a cerca de 15 salários mínimos brasileiros. Deste jeito, a grande onda vai ser fundar novas igrejas pelo mundo.” (O São Gonçalo, 29/11/1992)


Nota do “O São Gonçalo”, 29/11/1992

A sede na Suíça, país que tem fama de paraíso fiscal, foi a primeira das mais de 200 no exterior e 6.500 no Brasil. A Igreja Universal foi fundada em 9 de julho de 1977, por Edir Macedo e seu cunhado, Romildo Ribeiro Soares, o R. R. Soares, que por desentendimentos na administração da igreja, picou a mula e fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus. As primeiras reuniões da Universal foram no coreto do Jardim do Méier. Depois, num espaço alugado de uma funerária. Hoje, aos 70 anos, Edir Macedo conta com uma fortuna de mais de 1,2 bilhões de dólares, de acordo com a revista Forbes. Em 1989, adquiriu a Rede Record de Televisão por 45 milhões de dólares.
Reuniões da IURD no Jardim do Méier
Pois é, 23 anos se passaram após essa pequena notinha do Jornal O São Gonçalo e novamente a Igreja Universal passeia pelas páginas dos jornais locais quando anunciou recentemente a compra da i9 Music  por míseros 30 milhões de reais. Isso comprova que o mundo dá voltas, e para no mesmo lugar. Pelo menos para Edir Macedo que não precisa de DeLorean e nem de almanaque com resultados esportivos para continuar enriquecendo. Ou será que, enquanto pregava na Praça do Méier, algum viajante do passado lhe mostrou a fórmula do enriquecimento? Será?
Publicado no Sim São Gonçalo em 21 de outubro de 2015.

sábado, 15 de dezembro de 2018

O Bom Velhinho no Hospital das Freiras

Foto de Matheus Graciano (Sim São Gonçalo)
O espírito natalino já chega desde o primeiro dia. A cada dia que se aproxima do dia 24, fica mais fervoroso. Basta olhar para os lados e se deparar com árvores de Natal, guirlandas, presépios, estrelas natalinas, Papais Noéis de todos os tipos e tamanhos. À noite, a lembrança de que estamos no mês do Natal fica por conta dos zilhões de pisca-piscas que enfeitam a cidade.

De onde sai tantos enfeites natalinos MADE IN CHINA espalhados pela cidade?

Não precisa nem pensar muito na resposta. Existem muitos mercados populares espalhados pela cidade. E nada se compara a Alcântara. Em qualquer mês do ano o lugar já é um caldeirão de gente saindo pelo ladrão. Em dezembro a coisa piora e só os fortes sobrevivem. Até mesmo o bom velhinho, acostumado com a correria de Natal, não aguentou o tumulto e piripaqueou na famosa rua da feira.
Eu até gosto de andar por Alcântara. Gosto de gente, mas como no comercial de cerveja que me lembra de beber com moderação, é isso que faço quando chega nessa data. Mas tem horas que não podemos escapar de uma visita forçada. Aí não tem jeito, temos que respirar os ares do Alcântara.
Por sinal, dependendo da hora e do lugar, não são nada agradáveis. Atire a primeira pedra, quem nunca sentiu o cheiro de podre na Estrada Raul Veiga entre o Extra e o Supermarket?
Foi em uma dessas minhas visitas forçadas que tive uma experiência bem inusitada.

Quando Papai Noel quase infartou

O sol torrava tanto a cabeça que me sentia um peru de Natal, só esperando ser servido. Nem mesmo a sombra do viaduto de Alcântara aliviava o calorão. Enfim, tinha que cumprir a missão. Lá fui, em direção à rua da feira, mas sem antes dar aquela espiadela para ver que horas eram no prédio de relógio.
Faltava pouco para as 13 horas no horário de verão. Gente para todo lado. Com cuidado, vou me esquivando de um e de outro. No meio do falatório irreconhecível, um som quase rompe meus tímpanos. – “Chip da “Craro”, da Tim, da Vivo, e da Oooiii.” – Quando consigo fugir da bendita gordinha berradeira, já vem um me empurrando um papelzinho. Penso comigo mesmo em não pegá-lo, mas quando fixo os olhos no sujeito, a cara de poucos amigos me faz mudar de ideia. Pra mostrar que sou educado, dou aquela espiadela no papel que dizia em letras garrafas “Compro Ouro”. Eu não tenho, mas mesmo que tivesse não seria para ele que venderia.
Poucos passos adiante, vejo uma aglomeração de gente formando um círculo. Embora, aglomeração de gente em Alcântara seja de fato um pleonasmo, era uma roda de pessoas falando alto alguns com expressões de desespero. Chego perto e consigo ver entre as pernas daquele muro humano  um saco vermelho bem chamativo. Curioso, levantando a cabeça entre a multidão para tentar ver o que estava no interior do círculo pergunto o rapaz do meu lado.
– O que esta acontecendo aqui?
– O Papai Noel esta no chão desacordado.
– Caiu do trenó?
Ele olhou com uma cara que, nitidamente, percebi que não gostou da minha piadinha.
Também não era hora desse tipo de piada. Então, como alguém que quer se redimir, afasto um e outro com os braços e chego ao meio da roda. O que vejo é o bom velhinho apagadão no meio da roda e uma senhora que se dizia ter curso de enfermagem o abanando tanto que, se a barba não fosse de verdade, já teria o voado do rosto.
– Você sabe onde é o Hospital das Freiras?
A mulher nem me deu tempo de respirar.
– Sim, sei sim.
-Ótimo, me ajuda a levar esse senhor para lá?
– Claro!
Eu não podia dizer não para o Papai Noel.
Paramos o primeiro carro que passava por perto, a mulher sentou no banco de trás. Eu e mais um delicadamente acomodamos o barbudo de uma forma que as pernas dela o servissem como travesseiro.
– E o saco? – Ainda fora do carro perguntei para mulher.
– Que saco?
-Dele!
– Pega logo esse saco e entra no carro! Não temos tempo a perder.
Sentei no banco do carona e com o saco na mão dei as coordenadas.
– Toca para o Hospital das Freiras. Fica na Estrada do Pacheco ali na Lagoinha.
Tivemos sorte de não pegamos a Raul Veiga no horário do rush e chegamos bem rapidinho ao hospital.
Rapidamente, uma equipe do hospital tirou o barbudo do carro. Colocaram-no em uma maca e correram para dentro do hospital. A mulher que nos acompanhava sumiu junto com o paciente. Então, só me restou esperar notícias do bom velhinho com o saco vermelho na mão.

Sobre o Hospital das Freiras do Lagoinha

Na sala de espera, uma imagem grande de Nossa Senhora das Graças me chama a atenção. Caminho devagar até ela e fico admirando. Viajo no tempo para entender o nascimento daquele hospital tão importante para cidade de São Gonçalo.

Imagem da lagoa que deu origem ao bairro da Lagoinha, São Gonçalo-RJ. Fonte: Livro da irmandade Sagrado Coração de Jesus.

Era de interesse da Madre Superiora, Maria Antonieta, adquirir um terreno em um ambiente adequado para um convento aqui em São Gonçalo. Então surgiu a oportunidade de comprar o Sitio Lagoinha, na Estrada do Pacheco, 24, em Alcântara, o 2º distrito de São Gonçalo. Este sítio media aproximadamente 72.000 metros quadrados. Em sua entrada, uma bela pequena lagoa, que mais tarde acabou dando o nome ao bairro.
Então, a licença para a compra do sítio saiu pelo Cardeal-Arcebispo D. Jaime de Barros Câmara, no valor de Cr$ 1.100.000,00 (Um milhão e cem mil cruzeiros). Já no dia 23 de fevereiro de 1955, as irmãs instalam-se na casa de residência do sítio.

Imagens da construção. Fonte: Livro da irmandade Sagrado Coração de Jesus

Logo foi chamada de Casa Nossa Senhora das Graças pois, para sua aquisição, foi escrita uma carta a um grande incentivador à devoção em Nossa Senhora, o padre Antônio Ribeiro, com o título “das Graças”. Cinco dias depois de se instalarem, já foi celebrada a primeira missa em uma capelinha, propositalmente preparada pelo então responsável pela paróquia de Alcântara, o padre Érico Wort. A capelania da casa foi entregue aos Missionários do Sagrado Coração de Jesus.

Fonte: Livro da irmandade Sagrado Coração de Jesus

Em 2 de dezembro de 1955, começou a funcionar o Serviço Maternal e Infantil, um ambulatório visando dar assistência médica, religiosa e social às mães pobres e seus filhos. Com a grande quantidade de atendimento foi preciso construir um novo ambulatório e uma maternidade. O serviço encerrou suas atividades no ano de 1974. Em seu lugar, surgiu o Hospital Franciscano Nossa Senhora das Graças.

Voltando ao Papai Noel…

– O senhor esta esperando notícias do Senhor Sebastião? – Uma jovem freira alta com um sorriso gentil interrompe meus pensamentos.
– Sebastião? Indago sem saber quem é.
– Sim. O senhor Sebastião é o nome do Papai Noel que foi hospitalizado.
– Como a senhora sabe que estou esperando notícias dele?
Ela não fala nada, apenas inclina um pouco a cabeça e fixa os olhos em direção ao saco vermelho que eu segurava nas mãos.
– Ah, sim. Sou eu mesmo. Me chamo Alex. E como ele está?
– Está ótimo, foi apenas um susto que pregou em todos nós. Ele faz questão de falar com você e é por isso que vim até aqui para avisa-lo. Dentro de 5 minutos ele terá alta médica. Enquanto aguarda fique na excelente companhia de Nossa Senhora.
– Muito obrigado.
Enquanto a freira se afastava, me viro para a imagem de Nossa Senhora e, novamente, recomeço de onde parei na minha viagem ao tempo.

Capela. Fonte: Livro da irmandade Sagrado Coração de Jesus

Não ficou apenas no convento e no hospital das freiras. As irmãs franciscanas criaram em 1964, a Escola da Casa Nossa Senhora das Graças, pelo insistente pedido da Irmã Maria Lúcia. No inicio, apenas o curso de alfabetização. Depois, jardim de infância. Em 1986, foi reconhecida pelo MEC oficialmente como Escola Nossa Senhora das Graças de 1º a 4º série. Hoje o colégio também é conhecido popularmente como o “colégio das freiras”, com ensino até o 9º ano do fundamental.
Em 20 de dezembro de 1970, foi inaugurada a nova casa com a sua belíssima capela no estilo modernista.
-Então o senhor é responsável por salvar o Natal?
Já não estava mais caracterizado, mas era o mesmo barbudo e sem o traje aparentava ter uns 60 anos de idade.
-Eu? Não fiz nada.
-Claro que fez. Você e dona Isabel salvaram o meu Natal quando me tiraram de Alcântara e me trouxeram ao hospital das freiras. O médico disse que se demorasse mais um pouquinho eu não comeria rabanada esse ano.
– O mais importante que agora o senhor esta bem.
Sebastião me explicou que fazia um bico de Papai Noel para melhorar o orçamento doméstico, já que seu salário de aposentado não é muito, e com esse dinheirinho a mais poderia ajudar a sua família a ter um Natal melhor. Se pudesse, daria um Tablet para sua netinha de 13 anos.
Ficamos conversando por horas. Antes de me despedir, lhe entreguei o saco que guardei com sete chaves. Sebastião me deu um abraço que valerá por qualquer presente de Natal que pudesse ganhar.
Sebastião pode não ter cumprido a missão de ajudar a família com a renda extra de Papai Noel. Pode não ter dado o presente de Natal que esperava para sua neta. Mas o maior presente que ele poderia dar é estar vivo. E isso ele conseguiu dar à sua família nesse Natal.
Sim, Sebastião é um bom velhinho.
FELIZ NATAL PARA TODOS!
Curiosidades
1. O bairro de Alcântara homenageia o imperador brasileiro Dom Pedro de Alcântara (D. Pedro II).
2. Em 1984, políticos locais e o jornal “O Alcântara” se mobilizaram para a realização de um plebiscito, que tramitou pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e se concretizou em 1995. Não houve êxito, pois, apesar de uma votação expressiva a favor da emancipação, esmagadora parte dos eleitores da região interessada não compareceu às urnas.
3. Nos anos 70 houve doações para o Hospital das Freiras. O Arcebispo de Niterói doou 1 aparelho de Raio X e 1 gabinete dentário.
4. Com auxílio da MEMISA (Holanda) foram adquiridos 1 mesa cirúrgica, 1 autoclave, 1 lâmpada de teto com 5 focos, 1 lâmpada auxiliar, armários e instrumental cirúrgico.
5. Durante a construção da Casa Nossa Senhora das Graças um fiel a causa doou uma geladeira, uma vaca Jersey e uma imagem de Nossa Senhora das Graças que foi instalada no meio da lagoinha e hoje esta na entrada do terreno do hospital das freiras.
FONTES 

1. Livro da irmandade Sagrado Coração de Jesus.
Texto publicado em 24 de dezembro de 2014 no Sim São Gonçalo.
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