Estamos próximos da abertura do brasileirão 2019 e gostaria de saber se você é como a maioria dos brasileiros, apaixonado por futebol, ou é daqueles que não está nem aí para time nenhum. É daqueles que quando te perguntam qual o seu time você mais que depressa responde: “-Sou Brasil”.
Independentemente de você ser ou não um apaixonado, vou te provar através de várias publicações, cada uma relacionada à um time da série A que disputará o campeonato brasileiro desse ano, que futebol combina sim com literatura. E hoje é dia de falar da Estrela Solitária, do Alvinegro Carioca, do Glorioso, do Fogão do querido Botafogo Futebol e Regatas.
O Botafogo Futebol e regatas nasceu da fusão do Club de Regatas Botafogo, fundado em 1894 e Botafogo Football Club em 1904.
Não é à toa que é chamado de glorioso. Um clube da grandeza da história do Botafogo merece ser chamado assim. Em 1874, O Almirante Luiz Caldas fundava o Grupo de Regatas Botafogo, pois estava desgostoso com o antigo clube que defendia, Clube de Regatas Guanabarense. Em 1891, Luiz Caldas foi preso durante a Revolta Armada e veio a falecer 8 dias antes da fundação oficial do grupo de regatas batizado oficialmente como Club de Regatas Botafogo.
Naquele ano, ninguém segurava o Botafogo em regatas, Diva, a embarcação botafoguense virou lenda na Bahia de Guanabara. Foram 22 regatas vencidas, todas que disputou.
Em paralelo a isso, em 1904, no Largo dos Leões no bairro do Humaitá, surgia o Electro Club, um clube de futebol. A associação surgiu da ideia de dois amigos estudantes de 14 anos do Colégio Alfredo Gomes. Porém o nome Electro não durou muito, pois Dona Chiquitota, avó materna de um de Flávio, um dos amigos, e dona da casa onde acontecia a reunião, sugeriu a mudança do nome para Botafogo usando o seguinte argumento: “Ora, morando onde vocês moram, o clube só pode se chamar Botafogo”.
A fusão entre os dois clubes, tornando o glorioso o que é hoje, aconteceu oficialmente em 8 de dezembro de 1942. A união veio depois de um triste acontecimento. Em junho do mesmo ano, os dois clubes disputavam uma partida de basquete pelo Campeonato Estadual. No intervalo da partida em que o Botafogo Futebol Clube ganhava de 23 a 21, Albano, jogador do BFC caiu em quadra vítima de e um ataque fulminante. O corpo de Albano saiu de General Severiano e quando passou em frente ao Morisco, sede do Club de Regatas Botafogo, o então presidente Augusto Frederico Schimidt disse: “Comunico nesta hora a Albano que a sua última partida resultou numa nítida vitória. O tempo que resta do jogo interrompido os nossos jogadores não disputarão mais”. Em resposta à generosidade do adversário o presidente do Botafogo Football Club, Eduardo Góis Trindade, disse: “Nas disputas entre os nossos clubes só pode haver um vencedor, o Botafogo!” Schimidt então selou a fusão: “O que mais é preciso para que os nossos dois clubes sejam um só?”. Assim nasceu o Botafogo Futebol e Regatas.
Bom, já falamos da fantástica história do Botafogo, mas onde entra a literatura? O que nosso glorioso tem em comum?
Tudo em comum, pois quem foi o responsável pela fusão entre os dois clubes homônimos trazendo o nascimento do fogão que conhecemos hoje? O importante poeta e escritor da segunda geração do modernismo brasileiro, Augusto Frederico Schimidt. Apaixonado pelo clube, entre 1941 e 1942 foi o último presidente do Club de Regatas Botafogo.
Seus principais livros são “O Galo Branco” (1948), “Estrela Solitária” (1940) e “Prelúdio a Revolução” (1964), escrito um ano antes do seu falecimento.
Em 1930, fundou a Livraria Católica, que mais tarde se tornaria Livraria Schimidt Editora onde foi responsável por lançar grandes autores como Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, Vinicius de Moraes, Gilberto Freyre, Jorge Amado, dentre outros.
E não é só Schimidt que é gênio literário e apaixonado pelo botafogo. A lista é grande. O próprio Vinícius de Moraes lançado pela editora do amigo botafoguense era também apaixonado pela Estrela Solitária. Em um de seus poemas chamados “Olha Aqui, Mr. Buster” sita a sua paixão pelo botafogo. Vinicius dedica o poema a Mr. Buster, como ele mesmo coloca na introdução do poema:
* Este poema é dedicado a um americano simpático, extrovertido e podre de rico, em cuja casa estive poucos dias antes de minha volta ao Brasil, depois de cinco anos de Los Angeles, EUA. Mr. Buster não podia compreender como é que eu, tendo ainda o direito de permanecer mais um ano na Califórnia, preferia, com grande prejuízo financeiro, voltar para a “Latin America”, como dizia ele. Eis aqui a explicação, que Mr. Buster certamente não receberá, a não ser que esteja morto e esse negócio de espiritismo funcione.
“Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills. Está muito certo que em seu apartamento de Park Avenue O Sr. tenha um caco de friso do Partenon, e no quintal de sua casa em Hollywood Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro e de noite para lhe dar insônia Está muito certo que em ambas as residências O Sr. tenha geladeiras gigantescas capazes de conservar o seu preconceito racial Por muitos anos a vir, e vacuum-cleaners com mais chupo Que um beijo de Marilyn Monroe, e máquinas de lavar Capazes de apagar a mancha de seu desgosto de ter posto tanto dinheiro em vão na guerra da Coréia. Está certo que em sua mesa as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas E suas portas se abram com célula fotelétrica. Está muito certo Que o Sr. tenha cinema em casa para os meninos verem filmes de mocinho Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e na fabulosa hi-fi Com alto-falantes espalhados por todos os andares, inclusive nos banheiros. Está muito certo que a Sra. Buster seja citada uma vez por mês por Elsa Maxwell E tenha dois psiquiatras: um em Nova York, outro em Los Angeles, para as duas “estações” do ano. Está tudo muito certo, Mr. Buster – o Sr. ainda acabará governador do seu estado E sem dúvida presidente de muitas companhias de petróleo, aço e consciências enlatadas. Mas me diga uma coisa, Mr. Buster Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster: O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha? O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal? O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?” – Vinícius de Moraes
Um outro craque da literatura que não esconde sua paixão pelo Fogão é Luís Fernando Veríssimo que nunca perde a oportunidade de citar o Botafogo em suas crônicas.
“Temos uma maneira curiosa de declarar algumas das nossas predileções. Dizemos “sou Botafogo”, em vez de “torço pelo Botafogo”. ‘Torcer’ nos manteria distante do time preferido, na arquibancada, longe das botinadas do inimigo. ‘Ser’ significa nos identificarmos totalmente com nosso time, ser Botafogo da cabeça aos pés, padecer do que ele padece, vibrar quando ele vibra — enfim, descer da arquibancada.” – Luís Fernando Veríssimo.
E quem foi que disse que mulher não liga para futebol? E quem foi que disse que uma mulher e gênia na arte da escrita não liga para futebol? Sim, Clarisse Lispector gostava de futebol e era apaixonada pelo botafoguense. Vejam parte de uma crônica da escritora publicada no Jornal do Brasil em 30 de março de 1968.
“Deixe eu lhe contar minhas relações com futebol, que justificam o coitada do título. Sou Botafogo, o que já começa por ser um pequeno drama que não torno maior porque sempre procuro reter, como as rédeas de um cavalo, minha tendência ao excessivo. É o seguinte: não me é fácil tomar partido em futebol – mas como poderia eu me isentar a tal ponto da vida do Brasil? – porque tenho um filho Botafogo e outro Flamengo. E sinto que estou traindo o filho Flamengo. Embora a culpa não seja toda minha, e aí vem uma queixa contra meu filho: ele também era Botafogo, e sem mais nem menos, talvez só para agradar o pai, resolveu um dia passar para o Flamengo. Já então era tarde demais para eu resolver, mesmo com esforço, não ser de nenhum partido: eu tinha me dado toda ao Botafogo, inclusive dado a ele minha ignorância apaixonada por futebol. Digo “ignorância apaixonada” porque sinto que eu poderia vir um dia apaixonadamente a entender de futebol.” – Clarisse Lispector
A lista de craques da literatura que torcem para o Botafogo não para por aí, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, e muitos outros.
Bem amigos, quem vai continuar dizendo que futebol e literatura são duas coisas que não se misturam? Estão tão misturadas como nosso tradicional arroz com feijão. E essa mistura perdurará enquanto houver corações literários apaixonados por futebol ou vise versa.
“E ninguém cala
Esse nosso amor
E é por isso
Que eu canto assim
É por ti Fogo
Fogoôôô
Fogoôôô
Fogoôôô
Fogoôôô
Fogoôôô”