domingo, 1 de março de 2015

Pedra do Sal


A Pedra do Sal poderia ser uma simples formação rochosa que já teria a cara do Rio de Janeiro, pois sua composição é de gnaisse facoidal, chamada de “a mais carioca das rocha” por ser muito comum no Rio de Janeiro. O Morro do Corcovado, Pão de Açúcar e Pedra do Arpoador tem a sua composição principal essa rocha tão carioca. Porem a Pedra do Sal foi muito mais que apenas uma rocha e fez parte da história não só do Rio de Janeiro, mas também do Brasil.
Na época banhada pela baia da Guanabara era o principal local de desembarque de navios negreiros e local de desembarque do sal durante o monopólio instituído por Portugal em 1630 dando origem ao nome da pedra. O sal era importantíssimo para se preservar alimentos perecíveis, já que não existia geladeira, então os escravos garimpavam o sal derramado na pedra, e esses mesmos escravos foram responsáveis por talhar na pedra uma linda escadaria que até hoje da acesso ao Morro da Conceição.
Em 1608 um grupo de baianos fugindo da guerra e na esperança de trabalho se instalam ao redor da pedra do Sal. Enquanto os homens trabalhavam na estiva e despejavam o sal dos navios na famosa pedra, as mulheres, chamadas de “as tias baianas”(homenageadas até hoje nos desfiles de escolas de samba com a ala das baianas), faziam as famosas peixadas e mocotós. Tudo regado por batuque e jongos nas pensões ali existentes. E assim nascia o nosso SAMBA CARIOCA e a criação do primeiros ranchos cariocas, agremiações carnavalescas que precederam as escolas de samba atuais.
As tias baianas como Ciata, Bibiana, Mônica, Perciliana e outras, que se encontravam no terreiro de João Alabá formam um dos núcleos principais de organização e influência sobre a comunidade. São essas negras que ganham respeito por suas posições centrais no terreiro e por sua participação nas principais atividades do grupo, que garantiram a permanência das tradições africanas e as possibilidades de sua revitalização na vida mais ampla da cidade.
A mais famosa de todas as baianas, a mais influente foi Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata, citada em todos os relatos do surgimento do samba carioca e dos ranchos, como na memória dos negros antigos da cidade. Nascida em Salvador em 1854, no dia de Santo Hilário, chega ao Rio de Janeiro com 22 anos. Do namoro com conterrâneo Norberto, nasce Isabel, ainda durante as primeiras experiências de vida adulta de Ciata. Doceira, começa a trabalhar na Rua da Carioca sempre com suas roupas de baiana preceituosa. Mais tarde, Hilária irá viver com João Batista numa relação definitiva com quem teve 15 filhos. Mulher de grande iniciativa e energia, Ciata faz sua vida de trabalho constante, tornando-se a iniciadora da tradição carioca das baianas quituteiras, atividade que tem forte fundamento religioso.
Foi da Pedra do Sal que surgiram grandes nomes do samba e da MPB como Donga, Pixinguinha, João da Baiana e Sinhô. Foi ali também palco do primeiro samba a ser gravado no Brasil segundo os registros da Biblioteca Nacional. O samba “Pelo Telefone” de Ernesto Joaquim Maria dos Santos (Donga)e Mauro de Almeida registrado em 27 de novembro de 1916.
A Pedra do Sal foi tombada como patrimônio pelo governo do estado por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural – INEPAC em 20 de novembro, dia Nacional da Consciência Negra, de 1984.

Texto publicado em 22 de maio de 2012 no Grupo Rio Antigo.

Um comentário:

  1. Que bacana! Fui algumas vezes ao Rio, mas não na Pedra do Sal. Já entrou para a minha lista de lugares a visitar! Obrigada pela linda narrativa!!! 👏🏻👏🏻👏🏻

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