Eram 23 horas do dia
23 de junho quando o telefone do Recicla Leitores toca. E do outro lado da
linha uma voz rouca, porem calma.
- Alô ? Gostaria de falar com a
Victoria. Ela está?
- Sim, pois não? Aqui é o pai da
Victoria e ela não está.
-É que eu comprei o jornal O São Gonçalo
de hoje e veio uma reportagem de uma menina chamada Victoria que esta querendo
criar uma biblioteca comunitária, então gostaria de falar com ela, pois tenho
uma doação.
Matéria publicada no O São Gonçalo no dia 23/06/2014 |
- Então eu posso
ajudar. Pois não?
- Sou um senhor de 71 anos e me
impressionou muito a historia contada na matéria e gostaria de todo meu coração
contribuir para o projeto dessa menina.
A principio pensei que o senhor fosse
falar que tinha livros em suas estantes e gostaria de se desfazer deles para o
projeto, mas aquela ligação, aquela hora, era muito mais preciosa do que uma
biblioteca abarrotada de livros.
- Queria saber o endereço de vocês para
que possa mandar pelo correio um poema de minha autoria que fala sobre a
importância do livro na vida de uma pessoa.
Pausa na minha voz, por segundos fiquei
mudo. Muita coisa passou naquele instante pela minha cabeça. Aquela hora da
noite e aquela voz rouca desconhecida me pedindo o endereço. Será que aquela
voz sem rosto e corpo falava a verdade?
Então, depois dessa pausa pequena, mas
para mim uma eternidade, comecei a puxar papo antes de confirmar o endereço.
Disse-me que se chamava Marco de Faria Luz, mora em Santa Rosa, Niterói e é um
senhor de 71 anos que sofre com a solidão, mas adora escrever poemas e quando
viu no jornal a menina que adorava livros e disseminava o habito da leitura
lembrou de um poema que tinha feito no ano de 2003 que narra a importância do
livro em abrir os olhos das pessoas para o mundo.
- Há tempos procuro alguém para passar
esse meu poema, e a até hoje não via em ninguém a correta utilização destes
versos. Mas hoje a sua filha me provou que é merecedora desse tal gesto.
Aquelas palavras foram como uma faca
cortando-me o coração. Eu não tinha mais o que temer naquela mansa e rouca voz
que já tinha um nome. O senhor Marco ganhou a minha confiança e o meu respeito.
Antes de passar o endereço, fiz o meu ultimo questionamento.
- O senhor me permite que ao receber o
seu poema eu compartilhe-o para todos os meus amigos e diga quanto foi importante
o seu gesto?
Agora a pausa no telefone mudou de lado
e se pudesse ver a imagem através daquele aparelho veria a alegria no olhar de
Marco.
-É claro que pode, ficarei muito honrado
com isso.
Então MARCO, estou aqui escrevendo o
quanto você me deixou feliz naquela quase madrugada de segunda-feira e mais
feliz ainda, hoje, quando peguei na portaria o envelope pardo escrito em letras
garrafais onde dentro contem o verdadeiro tesouro que enriquece a humanidade.
Texto Publicado em 27 de junho de 2014 no Blog do Recicla Leitores
Poema de Marco Luz |
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