quinta-feira, 14 de maio de 2015

Por um Mundo Sem Predadores



Às vezes tenho habito de ficar parado viajando em devaneios, e hoje mesmo pensava em um momento agradável que passava em Búzios com a minha família. Era carnaval de 2008 e banhava-me com a minha filha naquela bela praia com o sol iluminando aquele cenário paradisíaco. De repente a minha filha começou a chorar e correr desesperadamente em direção a areia. Ela gritava e dizia que algo tinha queimado seu braço. Após os primeiros socorros fui pesquisar o causador daquele choro e não precisei entrar muito na água para ver uma fagueira água- viva desfilando na água límpida da praia. É impressionante como um ser aparentemente inofensivo com movimentos leves e belos como se flutuasse causar tamanha dor ao tocar na pele humana. 

Todo adulto sabe o risco que corre quando se depara com uma água-viva, porém esse risco é zero quando estamos em um lago de água salgada em Kabakan na Indonésia, chamado de Jellyfish Lake ou para o bom português Lago das águas-vivas. Um fenômeno natural fez com que espécies de águas-vivas habitantes do lago perdessem a toxina responsável por deixar longe qualquer espécie que queira se meter a besta com a bichana. A alguns milhões de anos as movimentações das placas tectônicas fizeram com que um pedaço de mar ficasse isolado no interior da ilha. E com esse paredão de rochas como barreira impediram que animais maiores entrassem no lago, apenas animais microscópicos e larvas para alegria dessas águas-vivas. Sem correr riscos com predadores naturais o tempo passou e com ele chegou o processo evolutivo transformando-as nas únicas da espécie com essa característica.

 Façamos uma comparação. Diga-me um exemplo de animal que assim como as medusas desse lago não tem predador natural? Pois é, o homem esse ser evoluído. Nosso “lago” é bem maior do que o da Indonésia e mesmo assim a raça humana não consegue viver em harmonia com ela mesma. Parece que a evolução nos impregnou de tal modo que ultrapassamos a barreira do certo e do errado, do amor ao próximo. E o que vemos é um mundo cada vez mais egoísta, onde o objetivo é sempre se dar bem, mesmo que tenha que passar por cima de outros. O que mais vemos é roubo, assassinato e até guerras.

Sim, evoluímos tanto que criamos nosso próprio predador. Como diz o filósofo, “Homo Homini Lupus”, somos lobos de nós mesmos.

Então nadaremos com as medusas inofensivas da Indonésia e não nos preocuparemos com as marcas das queimaduras feitas pela nossa própria espécie.


Texto publicado em 18 de maio de 2013 no Blog do Vovozinho.

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