Arte não tem idade, raça e classe social.
“-Não faz arte menino.” Culturalmente aprendemos nas broncas dadas por nossos avós que arte não é sinônimo de coisa boa. Felizmente não foi isso que Gabriel Joaquim dos Santos aprendeu e pode colocar em prática o verdadeiro sentido da palavra ARTE.
Gabriel filho de uma índia com um escravo africano, um homem pobre, negro e semi-alfabetizado, começo a criar sua obra aos 31 anos, depois de um sonho onde imaginou um enfeite para embelezar sua casa. Mas como fazer? Desistir do sonho, apagar da memória a visão tão bela que o inconsciente lhe trazia? Como solucionar o problema de não ter recursos para comprar o material necessário, a fim de concretizar aquela visão? Surgiu em sua mente uma ideia que de tão bizarra fez com que muitos parentes e vizinhos passassem a olhá-lo com estranheza no início da tarefa que se dedicou até morrer, 63 anos depois: usar o lixo abandonado nas estradinhas da região, garimpar nesses montes de detritos - de que todos se afastam - cacos de cerâmica, de louça, de vidro, de ladrilhos e de toda uma série de objetos considerados imprestáveis para o uso, tais como velhos bibelôs, lâmpadas queimadas, conchas, pedrinhas, correntes, tampas de metal, manilhas, faróis de automóveis... Sabiamente, ele comentava que fez uma casa "do nada" .
Sempre inspirado por sonhos e devaneios, passou a criar flores, folhas, mosaicos, cachos de uvas, colunas e esculturas fantásticas, que ia fixando dentro e fora de casa. Inventava luminárias com lâmpadas queimadas; nichos para proteção de um osso de baleia e de alguns bibelôs mais bonitos; molduras para retratos fixados à parede; uma estante chamada por ele de "altar dos livros"; bancos e armários de alvenaria, sensualmente aplicados, cobertos de ladrilhos coloridos. Gravava ou moldava com cimento inscrições para assinalar os trabalhos mais significativos.
Hoje a Casa da Flor, fruto do sonho de Gabriel, localizada em São Pedro da Aldeia é reverenciada por arquitetos no mundo todo e considerada uma obra prima da arquitetura espontânea.
Gabriel prova que não precisa ser doutor para criar, ao contrario, um eterno aluno na matéria viver intensamente sem se deixar influenciar pelas criticas e fazer com paixão. Ai naturalmente a ARTE vai acontecer.
Texto publicado em 12 de maio de 2012 no Grupo Rio Antigo.
História linda!!!
ResponderExcluirAgradeço sua participação e fico muito feliz por ter gostado Cida.
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